Lei do espaço marítimo tem grande mérito e condições para seguir
23 de jul. de 2020, 11:02
— Lusa/AO Online
Vasco Cordeiro foi
questionado sobre esta iniciativa legislativa, que está agendada para
as votações desta quinta-feira na Assembleia da República e é contestada
por vários deputados socialistas, após ter sido recebido pelo
Presidente da República sobre a data das próximas eleições regionais nos
Açores."Há um aspeto que também vi
referido nestas críticas e que não é verdade. Não é verdade que se
exclua ou que se crie uma segmentação de um mar dos Açores, de um mar do
continente e de um mar da Madeira", afirmou Vasco Cordeiro, em resposta
aos jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa.Tendo
ao seu lado o líder da bancada do PS no parlamento açoriano, Francisco
César, o presidente do Governo Regional dos Açores começou por referir
que não iria comentar "posições de deputados individualmente" sobre este
diploma."A lei que está na Assembleia da
República é uma lei positiva, é uma lei de grande mérito, pelas soluções
que consagra quanto àquilo que é o aproveitamento, em todo o país, e
não apenas em Lisboa, das potencialidades do mar", defendeu Vasco
Cordeiro, que disse não ter falado hoje sobre este tema com o chefe de
Estado, Marcelo Rebelo de Sousa.O
governante e dirigente socialista declarou que "não é verdade que estas
dúvidas sobre a constitucionalidade desta matéria estejam a surgir
agora" e sugeriu a consulta de "três pareceres de jurisconsultos"
disponíveis no portal da Assembleia da República e um outro da Comissão
de Assuntos Constitucionais."Portanto, não
é uma matéria que surja de novo agora e seja, no fundo, algo de
surpreendente, quer objetiva quer subjetivamente. Essa matéria foi
abordada quando a proposta inicial surgiu [na Assembleia Legislativa
Regional dos Açores], foi abordada também na própria Assembleia da
República no âmbito de uma análise na Comissão de Assuntos
Constitucionais", reforçou.No que respeita
à constitucionalidade do diploma, concluiu: "O facto de chegarmos até
este ponto demonstra que o entendimento é que a proposta tem condições
para seguir".O presidente do PS/Açores
contestou a ideia de que esta lei estabelece "uma segmentação" entre os
mares das regiões autónomas e de Portugal continental e de que "o Estado
estaria afastado completamente de qualquer ponderação quanto ao regime
económico e financeiro que decorresse do licenciamento dessas áreas"."Se
houver o cuidado de verificar a proposta que saiu do parlamento dos
Açores, verão que uma das matérias a que deve obedecer a intervenção ou a
definição regional do quadro legal obriga a que haja um processo de
codecisão com a República exatamente nessa parte. Ou seja, não se exclui
ninguém", sustentou. Por outro lado,
Vasco Cordeiro argumentou que "era importante revisitar a solução que
estava na lei que agora se pretende alterar, porque ela poderia, na
formulação que tem, não estar exatamente conforme com aquilo que são
determinações legais quanto à participação das regiões autónomas neste
processo".O guião de votações desta
quinta-feira inclui, para votação final global, o texto apresentado pela
Comissão de Agricultura e Mar relativo à proposta de revisão da lei de
bases da política de ordenamento e de gestão do espaço marítimo
nacional.O processo de revisão desta lei
partiu de numa iniciativa da Assembleia Legislativa Regional dos Açores e
a votação em sede de especialidade realizou-se hoje.Na
generalidade, a proposta de lei foi aprovada, no dia 20 de dezembro,
com votos a favor de todos os partidos menos o Chega, que votou contra, e
CDS-PP e PAN, que se abstiveram, assim como a deputada socialista Ana
Paula Vitorino.Este diploma estará em
discussão na reunião de quinta-feira de manhã da bancada do PS, horas
antes de ser sujeito a votação final global no último plenário da
presente sessão legislativa.Em declarações
à agência Lusa, a deputada socialista e antiga ministra do Mar Ana
Paula Vitorino afirmou que tenciona defender, juntamente com outros
deputados, que o diploma não seja votado já na quinta-feira em plenário,
caso contrário, irão opor-se, apresentando uma declaração de voto sobre
a matéria.Acompanham Ana Paula Vitorino
nesta posição de crítica antigos governantes como Marcos Perestrello,
Ascenso Simões ou Jorge Lacão, o constitucionalista Pedro Bacelar de
Vasconcelos, o presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros, Sérgio
Sousa Pinto, e o ex-presidente da Associação Nacional de Freguesias
Pedro Cegonho.Segundo a ex-ministra do
Mar, o diploma, tal como se encontra, "está ferido de
inconstitucionalidade, porque remete o ordenamento e a gestão do espaço
marítimo até às 200 milhas para a exclusiva responsabilidade e
iniciativa das regiões autónomas", sendo esta "uma questão de soberania
na sua essência"."Pretende-se transformar o
mar português no somatório de três mares: o dos Açores, o da Madeira e o
do continente. Desde logo, no plano político, passam a existir
dificuldades óbvias de coordenação, prejudicando a existência de um
plano estratégico e de ação para todo o mar", sustentou.Ana
Paula Vitorino considerou significativo que um grupo de deputados que
já tiveram responsabilidades governamentais em áreas como a Defesa
Nacional, os Negócios Estrangeiros ou o Mar e composto também por
especialistas em Constituição da República "conclua que o diploma está
ferido de vários vícios".