Lei de segurança nacional fortalece ‘um país, dois sistemas’ em Hong Kong
1 de jul. de 2020, 10:56
— Lusa/AO Online
"A legislação é a segunda
mais importante depois da Lei Básica [a miniconstituição da cidade], e é
um marco na política do Governo central em relação a Hong Kong",
apontou o vice-diretor do Gabinete de Ligação de Pequim em Hong Kong,
Zhang Xiaoming.Zhang definiu o texto como
uma "abordagem firme e flexível da situação na cidade" e considerou
"normal que as pessoas em Hong Kong tenham dúvidas" sobre a lei, mas
enfatizou que esta "fortalecerá claramente" o modelo de governação ‘um
país, dois sistemas', que garante a autonomia da cidade em relação à
China continental."Ninguém se importa mais
em salvaguardar o modelo de ‘um país, dois sistemas' do que nós",
disse, em resposta a alegações dos Estados Unidos e de outros países
ocidentais de que a lei põe fim à autonomia de Hong Kong face à China
continental.O responsável assegurou que a
China "vai continuar a promover a tolerância política" na cidade e a
coexistência de "visões diferentes"."Está
na hora de acabar com o caos, restaurar a lei e a ordem e seguir em
frente", defendeu, enfatizando que o novo texto jurídico "será a base
para a prosperidade e a estabilidade" da ex-colónia.Adiantou
ainda que Pequim não vê o movimento pró-democracia da cidade "como
inimigo", mas exorta-os a "refletir e ajustar a sua estratégia".O
diretor da Comissão de Assuntos Legislativos do Comité Permanente da
Assembleia Popular Nacional (APN) - que aprovou a lei na terça-feira -
Shen Chunyao, sublinhou que o texto visa "preencher as lacunas em Hong
Kong para estabelecer uma estrutura que proteja a segurança nacional".Shen
disse que o Governo central "atribui grande importância ao respeito
pelos direitos humanos" e reforçou que o modelo ‘um país, dois sistemas'
é a "política nacional" da China.Para
Shen, os direitos e liberdades reconhecidos pela Convenção Internacional
de Direitos Civis e Políticos e pela Convenção Internacional de
Direitos Económicos, Sociais e Culturais - consagrados na Lei Básica de
Hong Kong - estão "de acordo com o espírito da lei de segurança
nacional".Quanto às possíveis sanções
anunciadas pelos Estados Unidos, Shen reiterou que a aprovação da lei é
"um assunto interno" da China e que "o período em que os chineses
tiveram que agradar aos outros já passou".Zhang
apontou que a nova agência nacional, que ficará encarregue de
salvaguardar a segurança nacional em Hong Kong, não se enquadra no
artigo 22 da Lei Básica, que estabelece que todos os escritórios do
Governo central devem submeter-se aos regulamentos da cidade.O responsável disse que só assim é possível "garantir que a agência executa as suas tarefas de acordo com a lei". "Como
são casos que envolvem segredos de Estado, o governo de Hong Kong não
pode exercer controlo sobre esta agência", justificou.O Presidente da China, Xi Jinping, aprovou na terça-feira a controversa lei de segurança nacional em Hong Kong.O
texto, que críticos acusam de visar a oposição pró-democracia da região
semiautónoma, foi incorporado à "Lei Básica", a miniconstituição que
vigora em Hong Kong desde que o Reino Unido devolveu a soberania do
território à China, em 1997.O projeto de
lei foi ratificado pelo Comité Permanente da Assembleia Popular
Nacional, um órgão submetido ao Partido Comunista Chinês (PCC),
ignorando o Conselho Legislativo de Hong Kong.Ativistas
do movimento pró-democracia de Hong Kong consideram que a lei não
respeita as liberdades garantidas à antiga colónia britânica e que a sua
aprovação é o fim do princípio ‘um país, dois sistemas', que rege as
relações entre Hong Kong e a China continental.A
fórmula ‘um país, dois sistemas' foi usada em Macau e Hong Kong, após a
transferência dos dois territórios para a China, por Portugal e pelo
Reino Unido, respetivamente, e garante às duas regiões um elevado grau
de autonomia a nível executivo, legislativo e judiciário.