Lavrov nega responsabilidade por aumento do preço dos alimentos no fim de visita africana
27 de jul. de 2022, 15:22
— Lusa/AO Online
Em declarações aos
jornalistas em Adis Abeba, capital da Etiópia, Serguei Lavrov acusou os
Estados Unidos e os países europeus de terem aumentado os preços por
fomentarem políticas irresponsáveis, ou mesmo acumulado alimentos
durante a pandemia do covid-19. “A
situação na Ucrânia teve um efeito negativo adicional nos mercados
alimentares, mas essa situação não ocorreu como consequência da operação
especial da Rússia, foi antes devido à absoluta e inadequada reação do
ocidente, que impôs sanções”, disse Lavrov. Por
sua vez, os países ocidentais têm repetidamente assinalado que os
produtos alimentares estão isentos das suas sanções aplicadas à Rússia, e
acusam Moscovo pela crise global. Lavrov
disse que o acordo assinado na semana passada que garante corredores
através do mar Negro para a exportação de cereais a partir de portos
ucranianos “poderia ter sido anunciado há muito mais tempo caso não se
verificasse uma obstinação do Ocidente, que insiste em ter sempre
razão”. Indicou ainda que navios russos e turcos vão escoltar através do
mar Negro os barcos que ficaram retidos nos portos ucranianos, e logo
após a Ucrânia proceder à desminagem da sua linha costeira. Numerosos
países africanos dependem das importações de trigo provenientes da
Rússia e Ucrânia, e há algumas semanas dirigentes africanos visitaram
Moscovo para manifestar preocupação sobre o envio de alimentos, quando o
Corno de África se vê ameaçado por uma nova vaga de fome, incluindo a
Etiópia, devido à pior seca das últimas décadas. Muitos
países africanos não criticaram abertamente a Rússia pela sua invasão
da Ucrânia. O apoio de Moscovo a alguns países africanos vem do tempo da
ex-União Soviética ou da Rússia, em particular na qualidade de
fornecedores de armamento ao continente, incluindo no decurso das
guerras de libertação face ao colonialismo europeu. A
Etiópia é um importante centro diplomático da Ásia e o segundo país
mais populoso do continente, e no final deste ano deverá receber a
segunda cimeira Rússia-África. No início
deste ano, e na sequência da invasão militar da Rússia, o Presidente da
Ucrânia dirigiu-se à União Africana (UA), o organismo continental com
sede em Adis Abeba, mas obteve pouco impacto na maioria dos chefes de
Estado. No seu périplo africano, Lavrov
tentou tranquilizar os dirigentes locais preocupados com o aumento do
preço dos cereais, e justificou a invasão russa a Ucrânia devido a uma
“ameaça” à fronteira da Rússia. O chefe da
diplomacia russa também assinalou que a maioria dos países não apoia as
sanções ocidentais contra a Rússia, “pelo facto de, à exceção de dois
ou três países, nenhum em África, Ásia ou América Latina” se ter juntado
a essas medidas. No decurso da visita de
Lavrov, o Governo etíope não emitiu qualquer comentário sobre a guerra
na Ucrânia ou a crise alimentar, e apenas sublinhou que a Rússia e a
Etiópia concordaram em reforçar as relações económicas.