Lavoura de São Miguel admite manifestar-se se preço do leite não subir até final do ano
10 de nov. de 2021, 18:40
— Lusa/AO Online
“A questão da manifestação
está sempre em cima da mesa quando os produtores assim o bem entenderem
mas, atendendo à expetativa que temos de que as indústrias, até final do
ano, possam anunciar mais uma subida do preço do leite, vamos aguardar
para ver. Mas não pomos de parte qualquer tipo de manifestação se a
lavoura assim entender e quiser”, disse Jorge Rita.O
presidente da Associação Agricola de São Miguel e líder da Federação
Agricola dos Açores, falava aos jornalistas, na Ribeira Grande, na ilha
de São Miguel, antes de um encontro com a ministra da Agricultura, Maria
do Céu Antunes, que se encontra de visita aos Açores.Jorge
Rita ressalvou que “não é por ser um grupo de lavradores que quer fazer
uma manifestação, na [ilha] Terceira”, que se vai avançar”, pretendendo
“esgotar as hipóteses” mas admitindo que o rendimento dos produtores “é
dramático”.Os produtores de leite e de
carne da ilha Terceira vão fazer uma marcha lenta, com tratores e
carrinhas, em Angra do Heroísmo, na sexta-feira, em protesto pelo preço
pago pela indústria.“A manifestação é para
mostrar a indignação dos produtores e para perceberem que não é só o
presidente da associação que manifesta o descontentamento. Há um
descontentamento geral, quer dos produtores de leite, quer dos
produtores de carne da ilha Terceira”, adiantou, em declarações à Lusa, o
presidente da Associação Agrícola da Ilha Terceira (AAIT), José António
Azevedo.Num quadro de aumentos do preço
do leite na Terceira e São Miguel que “envergonha a todos”, o líder dos
lavradores de São Miguel destacou que, “a nível nacional, houve um
aumento de um 1,5 cêntimos [por litro] e não houve descidas no ano
passado”.Nos Açores, a quebra foi de 1,5 cêntimos por parte da maior parte das indústrias, disse.Para além da queda do preço do leite, assiste-se a um “aumento anormal dos custos de produção”, segundo Jorge Rita. O
responsável admite excedentes em algumas áreas de transformação e
produção que devem ser anulados, mas destacou que o país é deficitário
em queijo, devendo-se aumentar a sua produção.Questionada
sobre a insatisfação da lavoura face ao valor do preço do leite, a
ministra da Agricultura referiu que “quem regula o preço do leite é o
mercado, que tem que ser regulado”.Por
isso, disse, foi criada a PARCA - Plataforma de Acompanhamento das
Relações na Cadeia Agroalimentar, visando promover “entendimento desde a
produção até à prateleira, ao retalho, para poder ter no consumidor um
preço que seja justo na produção e em toda a cadeia”.O
secretário regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural, António
Ventura referiu que vai ser revista da filosofia dos apoios ao sector,
“passando do apoio numérico ao de conteúdo, principalmente nutricional”.“Aquilo
que era a função do POSEI [programa de opções específicas para fazer
face ao afastamento e à insularidade da regiões ultraperiféricas como os
Açores e Madeira], e o Prorural, em termos quantitativos de
agroalimentos, já cessou, teve a sua função. Vamos para um novo patamar
em que a quantidade pode prejudicar os preços desses agroalimentos, que
têm que ter maior naturalidade”, declarou António Ventura.O
governante salvaguardou que a nova filosofia de apoios vai ser revista
com a Associação Agrícola de São Miguel, uma vez que “continuar a apoiar
mais uma vaca ou um quilo de carne não é viável”.