Lançar a regionalização já ou adiar até pelo menos 2025
19 de fev. de 2020, 11:33
— Lusa/AO Online
“Perder a
oportunidade de ter eleições para os órgãos regionais em 2021, em
simultâneo com as autarquias locais, significa adiar por muitos anos
novamente a possibilidade de termos a regionalização instituída. A
oportunidade que há para concretizar a regionalização é esta e é algo
que não deve ser desperdiçado”, afirmou, em declarações à Lusa, João
Oliveira. Os comunistas foram os
primeiros a agendar um projeto de resolução que, não sendo uma lei, é
uma iniciativa política para recomendar, neste caso, que seja adotado um
calendário que propõe que as assembleias municipais se pronunciem até
ao final deste ano sobre a criação em concreto das regiões e a
realização de um referendo em 2021.Depois,
as eleições regionais realizar-se-iam em simultâneo com as autárquicas,
previstas para 2021, de acordo com a proposta, lançada pelos comunistas
após as jornadas parlamentares do partido realizadas em dezembro do ano
passado, em Évora. O Bloco de Esquerda
também apresentou, em finais de janeiro, um projeto de resolução no
mesmo sentido: lançar um “debate público alargado para a instituição de
regiões administrativas em Portugal a concluir até ao final de 2020” e
preparar a aprovação do enquadramento legal da regionalização “no
primeiro semestre de 2021”.João Oliveira
afirmou ter a expectativa de que “todos os partidos”, incluindo o PS e o
PSD, que “se manifestaram favoráveis à ideia de avançar com a
regionalização, não tomem agora uma posição diferente dessa”. O
deputado sublinhou que, no projeto de resolução, o PCP evitou fazer
propostas que sejam “elementos de divergência”, como por exemplo,
quantas vão ser e quais os órgãos de cada uma das regiões. “Este
debate será feito exclusivamente em função de uma decisão que a
Assembleia da República tem de tomar, que é a de fixar um processo e uma
data para a concretização da regionalização”, explicou. Aos
partidos que, no passado, apoiaram a ideia da regionalização, caso não
votem a favor, o líder parlamentar comunista aponta “a incoerência” e
sugere que sejam “as populações naturalmente" a fazer "esse ajuste de
contas do ponto de vista político” com quem "der o dito por não dito". Em
10 de dezembro, o primeiro-ministro, o socialista António Costa,
remeteu para a próxima legislatura, após 2023, um eventual referendo
para uma regionalização e disse esperar ainda "estar cá" nessa altura,
em resposta a perguntas da então líder parlamentar do CDS-PP.No
debate quinzenal com o primeiro-ministro, no parlamento, Cecília
Meireles tinha questionado Costa sobre o significado das suas palavras
no congresso da Associação Nacional dos Municípios Portugueses quanto à
mudança da forma de eleição das Comissões de Coordenação e
Desenvolvimento Regional por poder tratar-se do princípio da
regionalização.Meses antes, em junho, numa
entrevista ao Expresso, António Costa afirmou: “A pior coisa que podia
acontecer para quem defende a regionalização (…) era precipitarmo-nos
numa confrontação com o Presidente da República, com um risco de
comprometer por mais 20 anos [o processo]”.O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, é contra a criação das regiões administrativas.A
regionalização está consagrada na Constituição da República Portuguesa
desde 1976, foi objeto de um referendo em 1998, em que venceu o "não",
numa altura em que Marcelo era líder do PSD, e está ainda por
concretizar.