'Lajes do Pico' em praia francesa

10 de nov. de 2021, 10:14 — Célia Machado/AO Online

O professor de ioga visita quase todos os dias aquele local, para banhos de mar, tanto no verão como no inverno e, não é a primeira vez que encontra objetos do género, que recolhe, pois, costuma “retirar resíduos plásticos para limpar as praias”, como nos confessa. A 26 de outubro, quando fez a descoberta, lembrou-se de uma amiga francesa que gosta muito de falar sobre o lugar para onde mudou residência há poucos anos:“Fez-se um clique na minha cabeça e pensei, imediatamente, na ilha do Pico, onde vive a minha amiga Isabelle. Reconheci o Pico de nome, principalmente graças a ela, que é uma grande embaixadora da ilha”, conta-nos. Ainda assim, e para ter a certeza, recorreu à internet para uma busca rápida, onde confirmou que é o nome de uma vila picoense, pertencente ao arquipélago português dos Açores. A admiração foi mais do que muita por perceber que, de entre os objetos que já havia recolhido e conseguido identificar a origem, aquele era o que havia feito a viagem maior. Diz-nos agora que tem vontade de conhecer o dono do barco. Entretanto, contou sobre o seu achado à amiga que, por sua vez, fez uma publicação nas suas redes sociais sobre o assunto e, assim, chegou ao nosso conhecimento este 'encontro' que também chamou a nossa atenção. Embora a Capitania do Porto de Ponta Delgada não nos tenha podido dar qualquer informação, como, por exemplo, o nome do proprietário, conseguimos saber que 'Lajes do Pico' é o nome de um barco de pesca, com 30 metros de comprimento e oito de largura, construído em 1999, inicialmente para a pesca do atum, de salto e vara, (atualmente é um palangreiro), registado no Porto de Ponta Delgada, e que, afinal, a viagem da boia foi mais curta do que se poderia, à partida, pensar. É que 'Lajes do Pico' é uma das embarcações portuguesas com arte de palangre de superfície autorizadas a operar em Espanha, segundo o acordo luso-espanhol. Por isso, todas as primeiras quinzenas dos 12 meses do ano pode pescar em águas do país vizinho. A 29 de outubro, por exemplo, três dias depois da boia ser encontrada, a embarcação estava em Espanha, no Porto de Santa Uxía de Ribeira, na Galiza, de onde partiu no dia 5 de novembro. “Quero conhecer os Açores” Se antes Benoît tinha curiosidade em conhecer o arquipélago, agora essa vontade agudizou-se e já pensa em fazer uma visita à amiga que vive no Pico. Isabelle Clerc, francesa, ex-colega de trabalho de Benoît, veio há poucos anos viver para a Piedade, com o companheiro Thomas Dufour e o filho, apaixonados pela calma e paz da ilha, capazes de proporcionar um crescimento mais saudável para o pequeno Ulysse (agora um pouco maior). Instalaram-se na ponta da ilha e é ali que tem sido o seu lar. Isabelle Clerc dedica-se à arte da pintura de azulejos e o marido continua o seu trabalho de engenheiro florestal, grande parte do tempo à distância para outros países, enquanto o 'rebento' vai absorvendo tanto a cultura do país de origem como a da comunidade onde está inserido. Para além de, ocasionalmente, receberem familiares e amigos franceses na sua casa, não se coíbem de falar nas belezas da ilha aos que ainda não a experienciaram. Por causa da boia, Benoît tem um motivo adicional para finalmente conhecer o arquipélago. “Tenho ainda mais vontade de ir um dia aos Açores e em particular ao Pico, para descobrir esta ilha no meio do Atlântico, rever a Isabelle e conhecer a sua oficina de azulejos. E, quem sabe, organizar um retiro de ioga com alunos de França e de outros países”. “E, claro, encontrar o dono desta boia”, conclui.