Lacerda Sales diz que intromissão da Ordem é "clara ofensa ao Estado de Direito”
Caso gémeas
14 de dez. de 2023, 11:14
— Lusa/AO Online
Lacerda
Sales manifesta, num comunicado enviado à agência Lusa, a sua “total
discordância pela intromissão inqualificável do senhor bastonário da
Ordem dos Médicos na atividade governativa ao vir declarar à imprensa
que mandou abrir um processo de averiguação ou de inquérito ao Conselho
Disciplinar ‘para avaliar, obviamente, os médicos’ inclusive o
ex-secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales”.No
seu entender, “a intromissão da Ordem dos Médicos, a reboque da sua
tentativa de evidência nos media com o anúncio da avaliação de condutas
que são exercidas fora da profissão de médico, é completamente
inaceitável e uma clara ofensa ao Estado de Direito”.“A
Ordem dos Médicos [OM] não tem qualquer competência para avaliar o meu
desempenho enquanto secretário de Estado, essa está claramente reservada
a outros órgãos democráticos e que são eleitos por sufrágio universal”,
defende António Lacerda Sales.Lacerda
Sales cita a lei n.º 117/2015 que define no 1.º artigo que a OM é uma
associação pública profissional representativa dos que exercem a
profissão de médico, no artigo 3.º define as suas atribuições e no
artigo 6.º caracteriza “a sua especialidade nas funções a desempenhar e
em nenhum desses preceitos se entende que a Ordem dos Médicos pode
sindicar, avaliar ou proceder disciplinarmente sobre um membro do
governo”. Cita ainda o Regulamento
Disciplinar da OM que “plasma claramente no artigo 1.º que a Ordem deve
avaliar o cumprimento dos deveres dos seus membros, portanto dos
médicos”. Relativamente aos factos que vão
sendo revelados sobre o denominado “Caso das gémeas”, Lacerda Sales
reafirma “de forma clara” que não marcou qualquer consulta nem fez
qualquer telefonema para o hospital sobre este assunto, conforme
declarou o ex-diretor clínico, Luís Pinheiro numa entrevista que
concedeu na quarta-feira na RTP3.“Mais
declaro que não conheço qualquer médico do Serviço de Pediatria desse
hospital [Santa Maria] e não tive qualquer contacto com o serviço”,
asseguro.Para Lacerda Sales, estando
mencionado que a Secretaria de Estado é que encaminhou as bebés, deve
ser o subscritor do relatório clínico do hospital a “vir comprovar
objetiva e documentalmente quem encaminhou, como o fez, onde, com quem e
porquê”. Lacerda Sales afirma que “têm
sido muitos os ataques à legalidade própria do Estado de Direito num
fervor político que ultrapassa em muito o razoável, mas ainda assim
desculpáveis por estarem dentro do debate político e da tentativa de ter
tempo de antena a todo o custo”.Defende
ser importante apurar “os factos concretos que efetivamente ocorreram e
não fazer conjugações indiciárias apenas fundamentadas em jogos
lógico-dedutivos que nada apuram em concreto”.
“Naturalmente sei o que fiz e o que não fiz, mas reservei as minhas
declarações para momento posterior depois de conhecer toda a atuação da
secretaria de Estado que dirigi e sobre a qual tenho a respetiva
responsabilidade, pois posso não conhecer algum ato que se tenha
verificado”, salienta Lacerda Sales.Diz
ainda que, até ao momento, o Ministério da Saúde ainda não lhe forneceu
os documentos que estão arquivados na Secretaria de Estado. “Atendendo
a que os mesmos contêm dados nominativos e deverá ficar demonstrado o
meu interesse fundamentado e direto na sua obtenção, dai ainda a minha
reserva nos esclarecimentos a prestar”, refere.