Kiev desvaloriza alertas ocidentais sobre iminência de ataque russo
Ucrânia
11 de fev. de 2022, 16:54
— Lusa/AO Online
O
Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, pediu na
quinta-feira aos norte-americanos que deixem a Ucrânia sem demora porque
as “coisas podem ficar fora de controlo muito rapidamente”.“Não
há nada de novo nesta declaração”, comentou o ministro dos Negócios
Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, citado pela agência ucraniana
Ukrinform.“Conhecemos a posição dos
Estados Unidos, que já fizeram tais declarações. Começaram com a
retirada dos familiares e do pessoal da embaixada. Por conseguinte, esta
declaração não indica que a situação tenha mudado dramaticamente”,
acrescentou Kuleba.O chefe da diplomacia
norte-americana, Antony Blinken, secundou Biden nesse apelo e admitiu
hoje, na cidade australiana de Melbourne, que a Rússia pode invadir a
Ucrânia durante os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, que decorrem
até 20 de fevereiro.O Departamento de
Estado atualizou os alertas de viagem na quinta-feira, pedindo aos
norte-americanos que não viajem para a Ucrânia “devido ao aumento das
ameaças da ação militar russa”.Quanto aos norte-americanos que estão na Ucrânia, “devem partir agora” pelos seus meios, segundo a recomendação.“Os
cidadãos dos EUA na Ucrânia devem estar cientes de que o governo dos
EUA não poderá retirar cidadãos norte-americanos no caso de uma ação
militar russa em qualquer parte da Ucrânia”, lê-se na recomendação.Blinken
não detalhou as razões que levaram a este alerta de segurança do
Departamento de Estado, segundo a agência France-Presse (AFP).“Em
termos simples, continuamos a ver sinais muito preocupantes de escalada
russa, incluindo novas forças a chegar à fronteira ucraniana”, disse.Também
hoje, durante uma visita à Roménia, o secretário-geral da Organização
do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Jens Stoltenberg, advertiu hoje
que há um “risco real de um novo conflito armado” na Europa.“O número de tropas russas está a aumentar enquanto os tempos de aviso diminuem”, avisou o político norueguês.Esta
não é a primeira vez que as autoridades ucranianas e os seus aliados
ocidentais divergem sobre a iminência de uma possível invasão russa.Kiev
chegou mesmo a defender que os meios militares que a Rússia enviou para
perto das fronteiras ucranianas não eram ainda suficientes para uma
invasão de grande escala.No final de
janeiro, o Presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, disse que mensagens
alarmistas de “líderes de países respeitados” sobre a iminência da
guerra tinham gerado “pânico no mercado e no setor financeiro”.Este
alarmismo prejudicou a Ucrânia em 2.500 milhões de dólares (mais de
2.100 milhões de euros) de investimentos, segundo dados citados então
pela agência espanhola EFE.Zelensky
admitiu na altura que Kiev teria de gastar entre 4.000 milhões e 5.000
milhões de dólares (cerca de 3.500 milhões e de 4.300 milhões de euros)
das reservas do país para estabilizar a moeda ucraniana, a grívnia.“É o preço que pagamos pela política informativa desequilibrada”, afirmou então.No
início de fevereiro, o ministro das Finanças ucraniano, Serhiy
Marchenko, disse que Kiev estava a negociar apoios financeiros com o
Fundo Monetário Internacional (FMI), a União Europeia (UE) e os EUA
devido ao medo dos investidores.“Temos de
mudar completamente o foco para empréstimos diretos. (…) Os investidores
estão relutantes em comprar as nossas obrigações”, justificou.O
Ocidente acusa a Rússia de ter concentrado dezenas de milhares de
tropas na fronteira ucraniana para invadir novamente o país, depois de
lhe ter anexado a península da Crimeia em 2014.Moscovo
nega qualquer intenção bélica, mas condiciona o desanuviamento da crise
a exigências que diz serem necessárias para garantir a sua segurança,
incluindo garantias de que a Ucrânia nunca fará parte da NATO.