Kamala tem dois caminhos para vitória e beneficia de campanha curta
EUA/Eleições
1 de ago. de 2024, 11:23
— Lusa/AO Online
“Ela
beneficia de uma campanha curta, que terá apenas 100 dias”, explicou o
professor Thomas Whalen, da Universidade de Boston. “Se o outro lado
tivesse mais tempo, tentaria defini-la. Mas o lado de Trump está a ter
dificuldades a tentar encontrar uma linha de ataque a Kamala Harris”.Whalen
frisou que o eleitorado americano gosta de candidatos novos e que
prometem mudança e Kamala Harris encarna esse papel nesta campanha que
mudou dramaticamente com a desistência de Biden. “Tem
havido um crescimento do conservadorismo e dos reacionários, mas também
de mulheres no poder e participação das mulheres na política”,
salientou. “Acho que ela está a navegar essa onda”. A
mais recente sondagem da Bloomberg News/Morning Consult, publicada esta
terça-feira, mostra que Harris eliminou a vantagem que Donald Trump
tinha nos estados críticos cujo sentido de voto pode pender para
qualquer um dos lados. A democrata está
mesmo à frente em quatro destes estados “swing” – Michigan, Arizona,
Wisconsin e Nevada, enquanto Trump mantém a liderança em dois –
Pensilvânia e Carolina do Norte. É uma mudança significativa em relação a
Biden, que estava a perder todos os estados críticos para Trump por
vários pontos percentuais. “Todos os
indicadores têm sido absolutamente positivos para Kamala Harris”,
resumiu a cientista política luso-americana Daniela Melo. “Começámos a
ver um mover do ponteiro nos estados que já estavam fora de questão para
os democratas”, indicou, referindo os números desastrosos de Biden no
Arizona, Geórgia, Nevada e Carolina do Norte. “Kamala
Harris neste momento tem dois caminhos para a vitória”, afirmou a
politóloga. Um deles é ganhar na Geórgia, Nevada e Carolina do Norte,
este último um estado que já não vota à esquerda desde Barack Obama.Outro é aguentar a “parede azul” da Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, que Biden venceu em 2020. Na
sondagem nacional da Morning Consult, Kamala Harris lidera as intenções
de voto com 48%, apenas mais um ponto que os 47% de Donald Trump. Noutras
sondagens, como a do Wall Street Journal, Trump vai na frente 49%-47%.
No entanto, sendo a margem de erro de 3,1%, a corrida considera-se
empatada. A dinamização do eleitorado
afro-americano “tem sido nada menos que uma coisa realmente
extraordinária”, caracterizou Daniela Melo, destacando também os ganhos
da candidata no eleitorado jovem e entre os latinos. “Os
índices de favorabilidade dela esta semana subiram radicalmente”,
lembrou. “A entrada dela mudou o campo de batalha eleitoral dos
democratas pela positiva”. O problema de
Harris é ter menor alcance que Biden na classe operária branca e nos
eleitores com mais de 65 anos. Para colmatar essa lacuna, os analistas
antecipam que a democrata vai escolher um vice-presidente visto como
mais moderado.Tanto Melo como Whalen
referem que Mark Kelly, senador do Arizona, está bem posicionado para
ser escolhido, mas Harris ainda tem uns dias para tomar a decisão. Quem
já não pode voltar atrás é Donald Trump, que escolheu o senador do Ohio
JD Vance para vice-presidente antes da desistência do atual Presidente.“Eu
não tenho a certeza que se Trump soubesse uma semana antes que ia
defrontar Harris e não Biden teria escolhido JD Vance”, afirmou Daniela
Melo. “Foi uma semana muito complicada para JD Vance, porque ele foi uma
escolha muito arriscada e ainda não tinha sido testado a nível
nacional”. A cientista política antecipa
que Kamala Harris vai fazer uma campanha ao estilo de Barack Obama, mas
sem se focar muito no caráter histórico da sua candidatura: a primeira
mulher afro-americana e primeira pessoa de ascendência indiana a poder
chegar à Casa Branca. “O que vejo aqui é tentar com ela relançar a coligação Obama, não a coligação Hillary Clinton”, disse à Lusa.Harris deverá centrar-se nas políticas e no tema forte do aborto, que Biden não conseguiu defender. “Ela
tem um trunfo que Hillary Clinton não tinha, que é não ter 'bagagem'”,
considerou Daniela Melo, apesar de salientar que Harris tem um currículo
forte como procuradora e como senadora. Thomas
Whalen frisou o mesmo aspeto, lembrando que Harris não tem o peso das
políticas de Biden, por exemplo, em relação ao conflito Israel-Hamas, e
apela a uma geração mais jovem que gosta da sua frontalidade. “Ela
é autêntica, algo de que os eleitores mais jovens gostam porque estão
fartos das barbas grisalhas que viram ao longo dos anos”, disse à Lusa.