Justiça espanhola retira crimes a catalão Puigdemont e deixa-o "próximo da despenalização"
12 de jan. de 2023, 12:26
— Lusa/AO Online
As
mudanças na acusação a Puigdemont decorrem da entrada em vigor de
mudanças no Código Penal espanhol, defendidas pelo Governo de Espanha e
ratificadas pelo parlamento no final de 2022.Puigdemont,
que vive na Bélgica para escapar à justiça espanhola, deixa assim de
estar acusado de sedição, crime que levou outros nove independentistas
catalães à prisão por causa da tentativa de autodeterminação da
Catalunha em 2017, que passou pela realização de um referendo que havia
sido considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional e uma declaração
unilateral de independência no parlamento regional.A
justiça espanhola mantém, porém, a acusação a Carles Puigdemont de
peculato (pelo uso de verbas públicas para organizar o referendo ilegal)
e desobediência.O novo Código Penal
espanhol acabou com o crime de sedição (que previa penas de prisão até
15 anos) e alterou o de peculato (mau uso ou desvio de dinheiro
público), diminuindo as penas para os casos em que as verbas não foram
usadas para enriquecimento pessoal, o que é o caso dos independentistas
catalães.Quando as mudanças foram
anunciadas e debatidas, o Governo espanhol e vários juristas afirmaram
que com a abolição do crime de sedição, os independentistas passariam a
ser acusados e condenados pelo crime de "desordens públicas agravadas", o
que não aconteceu hoje com a nova decisão em relação a Puigdemont.O
juiz do Tribunal Supremo considerou que as "desordens públicas
agravadas" não se aplicam ao ex-presidente catalão e que as mudanças no
Código Penal o deixam num "contexto próximo ao da despenalização" dos
factos que praticou e de que é acusado.A
justiça espanhola já pediu por diversas vezes a extradição de
Puigdemont, mas o pedido foi recusado por outros países europeus,
precisamente, por causa do crime de sedição na legislação espanhola, que
já não existe nos códigos penais da generalidade dos países europeus e
que no caso de Espanha mantinha uma redação quase inalterada desde o
século XIX.Puigdemont é atualmente
eurodeputado e decorre na Bélgica um processo de pedido de levantamento
da imunidade parlamentar que tem por causa desse cargo.Dezenas
de outros catalães estão acusados de diversos crimes por causa dos
acontecimentos de 2017, a aguardar julgamento ou, como acontece com
Puigdemont, fugidos à justiça no estrangeiro.Aqueles
que já foram julgados foram condenados a penas de prisão e à
inabilitação para exercerem cargos públicos durante vários anos.Com
as mudanças no Código Penal, todos os já condenados ou acusados podem
ver reduzidas as penas que lhes foram aplicadas ou vierem a ser
aplicadas, permitindo, por exemplo, o regresso à vida política em breve,
como candidaturas em próximas eleições regionais.Nenhum
dos nove julgados estão já na prisão, porque o Governo espanhol,
liderado pelo socialista Pedro Sánchez, lhes concedeu indultos em 2019.Sem
uma maioria absoluta de apoio no parlamento nacional, Sánchez tem
contado com os independentistas catalães (e também com os bascos, além
de outras formações mais pequenas) para aprovar leis como o Orçamento do
Estado.O próprio Sánchez reconheceu que
esta foi uma reforma "arriscada" do Código Penal, mas acrescentou ser o
único caminho para acabar com a crispação na Catalunha e desjudicializar
o conflito político.Sánchez tem defendido
que este caminho tem tido bons resultados e que, desde que tomou posse,
em 2018, o independentismo catalão está dividido, há diálogo entre as
instituições nacionais e regionais e deixou de haver no executivo
catalão a defesa e um projeto de autodeterminação unilateral da
Catalunha.Já a direita acusa os
socialistas (que estão no Governo com a plataforma de partidos da
extrema-esquerda Unidas Podemos) de negociarem com "delinquentes" as
suas próprias penas só em troca de garantirem "a cadeira do poder".