Juro pago por Portugal é o segundo mais alto entre as 4 economias desenvolvidas mais endividadas
23 de set. de 2017, 11:04
— Lusa / AO online
Na
semana passada, a agência de notação financeira Standard and Poor's
(S&P) melhorou o 'rating' atribuído a Portugal, retirando a dívida
soberana portuguesa do lixo. Nas reações, o ministro das Finanças, Mário
Centeno, mostrou-se otimista, mas disse que "o otimismo tem de ser
assertivo e pragmático, porque a dívida permanece a quarta maior do
mundo". Segundo os dados do 'World Economic Outlook' do Fundo
Monetário Internacional (FMI), Portugal tinha, no final de 2016, a sexta
dívida pública em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) mais
elevada do mundo, mas sobe para quarto lugar caso se considerarem apenas
as economias desenvolvidas. De acordo com o FMI, em 2016, as 10
economias com maiores dívidas públicas em percentagem do PIB eram o
Japão (239,2%), a Grécia (181,3%), o Líbano (143,4%), Cabo Verde
(133,8%), Itália (132,6%), Portugal (130,3%), a Eritreia (125,5%), a
Gâmbia (116,1%), Moçambique (115,2%) e a Jamaica (115,2%). Para
este ano, o FMI estima uma melhoria na dívida pública da maior parte
destes países, embora a posição de Portugal se mantenha no sexto lugar
(bem como os países com valores acima da dívida portuguesa). Assim,
se considerados apenas as economias desenvolvidas, Portugal surge na
quarta posição tanto nos valores do ano passado, com uma dívida de
130,3% do PIB, como nas estimativas deste ano, com 128,6%, atrás apenas
do Japão (que deve manter este ano a dívida pública de 239,2% do PIB),
da Grécia (181,3% em 2016, 180,7% este ano) e de Itália (132,6% em 2016 e
132,8% este ano). O que é que significa ter uma dívida pública
destes valores? O economista-chefe do Montepio, Rui Bernardes Serra,
destaca a elevada fatura com juros, "despesa que poderia ser dirigida
para outras áreas, como a saúde, a educação ou o investimento público em
infraestruturas". Além disso, afirmou, "uma maior dívida
pública condiciona a evolução do défice de cada exercício, quer no
sentido de limitar as despesas noutras rubricas (como as referidas
anteriormente), quer no sentido do Estado ter necessidade de obter mais
receitas, nomeadamente, através da recolha de impostos". "Ou
seja, com uma dívida pública mais baixa poderíamos ter, em tese, taxas
de IVA, IRC ou IRS mais baixas", adianta, acrescentando que "uma dívida
pública mais elevada constitui um constrangimento para o Estado, as
empresas, as instituições e as famílias, condicionando o crescimento da
economia". Por sua vez, o diretor de investimentos do Carregosa,
João Pereira Leite, acrescentou que, com um nível tão alto de dívida, é
necessário "fazer um esforço orçamental permanente, mantendo o défice
muito baixo, e evitar assim novos aumentos de dívida". "Na
verdade, deveríamos ter folga para, em anos de abrandamento económico,
poder ter um orçamento mais expansionista para compensar. Só que nós não
temos essa opção", lamentou. Por outro lado, se considerados os
juros pagos pela dívida no mercado secundário, Portugal tem a segunda
'yield' (taxa de juro a 10 anos) mais elevada entre essas quatro
economias desenvolvidas. Na sexta-feira à tarde, os juros da dívida
portuguesa a 10 anos estavam nos 2,442% - abaixo apenas dos 5,550%
cobrados à Grécia na mesma maturidade, segundo a agência de informação
financeira Bloomberg. Entre o grupo dos quatro países
desenvolvidos com maior dívida pública em percentagem do PIB, o Japão
tem uma taxa de juro a 10 anos baixa - negociava a 0,034% na
sexta-feira. Também Itália, embora apresente uma dívida superior a
Portugal, tinha uma taxa de juro a 10 anos inferior, na passada
sexta-feira: 2,106%. Segundo João Pereira Leite, esta diferença
entre Portugal e Itália acontece porque "a Itália é a terceira maior
economia da zona euro e a sétima mundial, ou seja, é 'too big to fail'".
Por outro, acrescenta, em Itália "o Governo está endividado, mas as
famílias e as empresas não estão assim tão endividadas, o que lhes
permite comprar essa dívida. Ao contrário de Portugal, os italianos são
os principais credores do seu Estado". Embora ainda esteja a
cerca de 60 pontos base de diferença, os analistas do banco Société
Générale anteveem que, com a subida do 'rating' pela S&P se venha a
verificar uma convergência com Itália na taxa de juro. Já o
diretor de investimentos do Carregosa afirma que a melhoria do 'rating'
"permite uma diminuição do 'spread' da dívida face à Alemanha e uma
aproximação à Itália, podendo emitir a taxas mais baixas do que até
aqui". No caso do Japão, diz por sua vez o economista chefe do
banco Montepio, as taxas de juro são baixas, porque, ao contrário de
Portugal, "o Japão dispõe de ativos líquidos positivos face ao exterior,
resultante de sistemáticos excedentes da balança corrente,
nomeadamente, da balança comercial de bens, que reflete a elevada
competitividade do setor industrial japonês, mas também porque dispõe de
moeda própria e de um banco central que tem vindo a ter uma política
monetária ultra expansionista (e que tem efetuado compras de dívida
pública, pressionando em baixa as taxas de juro), que permitiu acabar
com a deflação no país, mas que ainda não conseguiu que a inflação
atingisse a meta de 2%". No Programa de Estabilidade 2017-2021, o
Governo comprometeu-se com uma redução da dívida pública de 130,1% em
2016 para 127,9% este ano, descendo sucessivamente até 109,4% em 2021.