Juizes querem rápida reforma da Justiça sem cedências à "agitação do momento"
15 de mai. de 2024, 17:58
— Lusa/AO Online
A
nova direção da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) foi recebida em audiência no Palácio de Belém pelo Presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa, e no final o novo presidente da
associação, o desembargador Nuno Matos, considerou o encontro positivo
pela partilha de preocupações comuns, nomeadamente a necessidade de uma
reforma da Justiça.“O que é relevante é
que os tempos em que vivemos em relação à Justiça tornaram mais
relevante esta visita, porque todos percebemos que estamos a viver um
momento de grande agitação e propício à tomada de posições e até
decisões sobre a questão da Justiça que a todos preocupam. (…) A Justiça
deve ser trazida para a ribalta da atuação política e a reforma da
Justiça deve ser levada a cabo agora”, disse Nuno Matos à Lusa.O
presidente da ASJP referiu que Marcelo Rebelo de Sousa transmitiu o
empenho numa reforma “num tempo rápido e de forma correta, séria e
consequente”, que não passe apenas por “falar das questões, mas resolver
as questões, umas mais urgentes, outras mais de fundo”.Nuno Matos defendeu, no entanto, que rapidez não significa ausência de ponderação.“Fazer
determinadas reformas sobre dois ou três casos concretos, a quente ou à
flor da pele, normalmente não dão bom resultado. Temos é que ter a
capacidade de distinguir o essencial do acessório, não é mudar por
mudar, é refletir sobre as questões e alterar, e não ter a tentação de
mudar exatamente por causa dessas questões muito concretas. É preciso
ter essa noção e a exata dimensão das coisas”, disse.Entre
as urgências, Nuno Matos colocou a resolução do problema dos
funcionários judiciais, chamando a atenção para os problemas criados
para o sistema de justiça por sucessivas greves, e para a necessidade de
tornar as carreiras na Justiça – das magistraturas e dos funcionários
judiciais – para atrair talento.“Há coisas
que são absolutamente urgentes e outras que têm que ser pensadas a um
prazo mais alargado, verdadeiras reformas de fundo. O sistema de Justiça
muitas vezes não se compadece com uma gestão corrente, muitas vezes a
atuação política é isso que faz, não ataca os problemas de fundo”,
afirmou o presidente da ASJP.Nuno Matos
referiu que muitos dos problemas no setor estão identificados e que “o
poder político está alertado para eles há muito tempo”.“Se
formos ver os discursos de abertura do ano judicial acho que quase
todos referem a necessidade de alterar algumas coisas, da reforma da
Justiça, e são apontados até caminhos e depois acabam por não serem
concretizados, porque é preciso uma vontade política muito grande e é
preciso também meios, porque não se pode pedir resultados sem que
existam meios”, sublinhou.