Juízes concordam com colaboração premiada, mas acordo será sempre entre MP e arguido
9 de dez. de 2019, 11:42
— Lusa/AO Online
“Não temos uma objeção de princípio quanto a
essa matéria. Aliás, em 2011 foi apresentada na Assembleia da República
uma obra escrita por juízes sobre as possibilidades de reforma do
sistema penal e um dos capítulos tinha uma proposta de abertura de
discussão sobre a justiça penal negociada”, disse à Lusa o presidente da
ASJP, acrescentado: “O que é importante é que qualquer solução assente
sempre numa confissão do arguido integral e sem reservas e que seja
espontânea”.Manuel Soares falava à Lusa em
reação a algumas das intenções do Governo para a área da Justiça, hoje
conhecidas, entre as quais a possibilidade de os arguidos fazerem
acordos em julgamento e o melhoramento da lei sobre o direito premial. O
responsável considerou que, em matéria de acordos em julgamento, é
importante o juiz verificar “se a confusão não é artificial para obter
determinado resultado”, assim como não ser o juiz a negociar a pena com o
arguido.“Isso seria inadmissível”,
sublinhou o presidente da ASJP, frisando que “qualquer solução tem de
passar pelo Ministério Público, que investiga e acusa, e o arguido, que
se defende”.Em declarações à Lusa, Manuel
Soares considerou ainda essencial que o juiz, na avaliação desse acordo,
“mantenha toda a possibilidade de verificar se os factos ocorreram e se
a pena que lhe é proposta é adequada para o crime que foi praticado”.“Observados
estes princípios fundamentais não há nenhuma razão para sermos contra
um mecanismo que existe em muitos países e que tem dado resultados
positivos. Para certo tipo de criminalidade este pode ser um instrumento
importante, por exemplo, no combate à corrupção”, afirmou.Quanto
à possibilidade de separação dos megaprocessos, Manuel Soares admite
que alguns processos possam ter questões conexas desnecessariamente, mas
sublinha: “não são todos assim”.“Enquanto
existirem megacriminosos e megacrimes há-de haver sempre megaprocessos e
o que o Estado tem de dar é megameios a quem investiga e a quem julga”,
afirmou o responsável.Manuel Soares diz
que “pode acontecer determinados processos serem partidos em dois ou
três”, mas sublinha: “Há muitos casos em que se partimos um processo em
que todos os factos estão interligados entre si em três ou quatro
processos isso vai acabar em três ou quatro absolvições”.“Os
factos só fazem sentido olhando para o conjunto, como um puzzle: se
temos um puzzle de mil peças ou temos as 1.000 peças juntas e
conseguimos perceber a imagem ou, se nos dão 100 de cada vez, nós não
conseguimos perceber a imagem”.O
presidente da ASJP insistiu: “A ideia de que se pode acabar com os
megaprocessos não e verdadeira e era bom que parássemos de dizer isso”.“Andamos
há anos e anos a dizer que somos conta os megaprocessos, mas em factos
que envolvem dezenas de pessoas, que se passam em três ou quatro países,
que envolvem off-shores e milhões de movimentos bancários haverá sempre
megaprocessos, ou então arranjamos um sistema para ter
mega-absolvições”, acrescentou.Disse ainda
que a ASJP está aberta a uma proposta para que haja juízes
especializados em determinados crimes, “desde que se garanta a
aleatoriedade do juiz, ou seja, desde que seja respeitado o princípio do
juiz natural”.