Juiz do Supremo espanhol reitera recusa de amnistia a Puigdemont
10 de set. de 2024, 17:23
— Lusa/AO Online
É
a segunda vez que o juiz Pablo Llarena recusa aplicar a Puigdemont a
lei de amnistia para independentistas catalãoes aprovada em maio pelo
parlamento espanhol.Depois de uma primeira
decisão nesse sentido, a defesa de Puigdmont e o Ministério Público
apresentaram recursos, mas o juiz confirmou hoje a recusa de amnistiar o
independentista.Puigdemont pode agora
recorrer para uma secção superior dentro do Tribunal Supremo e, a
seguir, se se confirmar a rejeição da amnistia, para outras instâncias,
como o Tribunal Constitucional ou a justiça europeia.O
juiz Pablo Llarena tem invocado que a lei de amnistia que foi aprovada
não abrange o crime de peculato (mau uso de verbas públicas) de que está
acusado Puigdemont, que vive desde 2017 na Bélgica para fugir à justiça
espanhola depois de ter protagonizado naquele ano uma declaração
unilateral de independência da Catalunha.A
acusação por peculato decorre do uso de verbas públicas para a
organização de um referendo ilegal sobre a independência da Catalunha em
outubro de 2017, quando Puigdemont era presidente do governo
autonómico.A lei de amnistia estabelece
que não são amnistiáveis os crimes de peculato quando houve "propósito
de obter um benefício pessoal de caráter patrimonial" e é esta a
justificação usada pelo juiz para recusar a aplicação a Puigdemont,
naquilo que os advogados do dirigente independentista consideram ser uma
"grotesca arbitrariedade" do magistrado.O
juiz do Supremo invoca que a lei de amnistia não estabeleceu que todos
os crimes de peculato cometidos para organizar o referendo eram
amnistiáveis e que os acusados “decidiram imputar aos fundos públicos
fornecidos pelos contribuintes os custos” da consulta, o que foi ilegal,
contrariou a Constituição espanhola e o Estatuto da Catalunha e não
cabia nas competências do governo autonómico.A
decisão do juiz Llarena - que abrange outros dirigentes
independentistas catalães além de Puigdemont - contradiz também decisões
tomadas por magistrados de outras instâncias, como o Tribunal Superior
de Justiça da Catalunha, que já aplicaram a amnistia a pessoas que
tinham sido condenadas ou estavam acusadas pelo mesmo crime.Numa
mensagem publicada na rede social X, Carles Puigdemont lamentou hoje a
nova decisão do juiz Llarena e queixou-se de ter sabido pela comunicação
social que o recurso que apresentou tinha sido rejeitado.Já
o recém-eleito governo regional catalão, liderado pelo socialista
Salvador Illa, voltou hoje a pedir aos juízes para aplicarem a lei da
amnistia “sem subterfúgios” e para respeitarem aquilo que decide o poder
legislativo.O parlamento espanhol aprovou
em 30 de maio a amnistia para separatistas da Catalunha condenados,
acusados ou procurados pela justiça por causa da tentativa de
autodeterminação da região que culminou com o referendo ilegal e a
declaração unilateral de independência em 2017.A
amnistia foi uma exigência dos partidos independentistas Esquerda
Republicana da Catalunha (ERC) e Juntos pela Catalunha (JxCat, de Carles
Puigdemont) para viabilizarem o último Governo espanhol, do socialista
Pedro Sánchez, em novembro passado.A nova
"lei orgânica de amnistia para a normalização institucional, política e
social na Catalunha" foi publicada no dia 11 de junho e entrou
imediatamente em vigor, cabendo agora aos juízes a aplicação, apreciando
caso a caso.Até agora, a justiça tem
recusado aplicar a amnistia a Puigdemont, que continua a ser alvo de um
mandado de detenção em território espanhol.Apesar disso, Puigdemont esteve em Barcelona em agosto passado sem ter sido detido. Após
fazer um pequeno comício na cidade, transmitido em direto nas redes
sociais e pelas televisões, Puigdemont voltou a escapar à polícia e
regressou à Bélgica.A lei de amnistia,
apesar de ter o apoio da maioria dos catalães, dividiu os espanhóis nos
últimos meses, como demonstram todas as sondagens e estudos de opinião,
assim como magistrados e juristas, e levou dezenas de milhares de
pessoas às ruas, em manifestações de protesto convocadas pelo Partido
Popular (PP, direita) e pelo Vox (extrema-direita).