Juiz conselheiro aposentado acusado de 16 crimes de prostituição de menores
24 de jan. de 2025, 09:30
— Nuno Martins Neves
"Finalmente...”, “Já era sem tempo!”. Estas foram algumas
das reações que vários lagoenses, que pediram anonimato, partilharam
ontem com o jornal Açoriano Oriental, após a notícia que Manuel Mota
Botelho, juiz conselheiro aposentado de 72 anos, irá enfrentar a
justiça, pela suposta prática de 16 crimes de prostituição de menores,
dois deles agravados, cometidos contra seis menores, do sexo masculino,
com idades entre os 15 e os 17 anos.Aacusação de Manuel Mota
Botelho foi noticiada pelo jornal Público e pelo canal de televisão SIC,
tendo por base o despacho de acusação do Ministério Público. A
investigação, a cargo do Departamento de Investigação e Ação Penal dos
Açores da Polícia Judiciária teve início em 2021 e partiu de escutas
efetuadas ao “Farfalha”, o pintor de construção civil condenado no
conhecido processo de abuso sexual de menores, que abalou os Açores no
início dos anos 2000. Depois de cumprida a pena de 14 anos de prisão,
Farfalha voltou a ser acusado e condenado em 2020 pela prática de sete
crimes de recurso à prostituição de menores, um crime de coação sexual
agravado e um crime de tráfico de estupefacientes agravado.Ora, foi
durante o período em que Farfalha esteve fora da prisão que a PJ
conseguiu recolher indícios sobre a conduta de Manuel Mota Botelho.Segundo
reporta a imprensa nacional, o juiz conselheiro do Tribunal de Contas
aliciava menores para a prática de sexo oral. O “campo de atuação”
ficava nas imediações da sua habitação, no Jardim da Praça de Nossa
Senhora da Graça, na Lagoa. Ao volante do seu jipe, galanteava os
jovens, na sua maioria “com rapazes com problemas de integração
familiar, social e escolar e problemas de adição de drogas”, como refere
o despacho de acusação. Em troca de sexo oral, pagava-lhes 25 euros,
adiantou a SIC.No rol de vítimas presente no despacho de acusação,
há dois jovens de 15 anos, três com 16 anos e um com 17 anos, metade dos
quais viviam em casas de acolhimento.A investigação, a cargo da PJ,
terminou ainda em 2023, com o Ministério Público a apresentar a
acusação. A instrução começou em junho de 2023, com o debate instrutório
a ter-se realizado em dezembro passado. Manuel Mota Botelho refutou
as acusações, afirmando que a processo apresenta “erros de facto e de
direito, imputa supostos crimes que as próprias alegadas vítimas negam,
assente em depoimentos cujas gravações ou não existiram ou não estão no
processo”, refere tanto o Público, como a SIC.Ainda segundo a SIC, o
Supremo Tribunal de Justiça validou todos os crimes contra o juiz, o
que fará com que seja a primeira vez que um magistrado vai ser julgado
por um crime semelhante.Suspeitas remontam a várias décadasApesar
do processo pelo qual terá de responder no Supremo Tribunal de Justiça
se prender com factos ocorridos entre 2019 e 2023, Manuel Mota Botelho
chegou a ser investigado no caso da Farfalha, mas, à data dos factos
(2003), os crimes pelos quais é agora acusado (prostituição de
adolescentes) ainda não eram puníveis por lei, algo que foi mudado com a
alteração à lei em 2007.Segundo alguns moradores da freguesia do
Rosário, de onde é natural Manuel Mota Botelho, as suspeitas sobre o
juiz conselheiro eram muitas e remontavam há várias décadas, sendo quase
de conhecimento comum. Aposentado desde 2013, Manuel Mota Botelho
licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa. Exerceu
funções em diversas comarcas, entre elas Lisboa e Açores, ocupando
cargos de Procurador da República (1990) no Círculo Judicial de Ponta
Delgada e na Secção Regional dos Açores do Tribunal de Contas;
Procurador-Geral Adjunto (1999) do Tribunal da Relação de Lisboa; e Juiz
Conselheiro do Tribunal de Contas (2004), tendo sido colocado na 3.ª
Secção do Tribunal de Contas desde 1 de janeiro de 2008, em acumulação
de funções com a Secção Regional da Madeira do Tribunal de Contas.