Autor: Carolina Moreira
Jovens açorianos escreveram este fim de semana uma carta ao Papa Francisco a apelar à nomeação de um novo bispo para a Diocese de Angra, posição que se encontra sem liderança desde o passado mês de setembro.
“A nossa Diocese está sem bispo há já alguns meses! Apesar de não sermos ‘ovelhas sem pastor’, logo que seja possível, envie-nos um Bispo que seja pastor, próximo, que nos escute e nos compreenda, que seja um de nós e um por nós!”, cita o sítio da Igreja Açores.
A carta foi entregue este domingo ao Núncio Apostólico, D. Ivo Scapolo, num encontro promovido pela pastoral juvenil na Igreja de São José, em Ponta Delgada, para assinalar o Domingo de Ramos.
No documento, os jovens açorianos pedem também ao Papa Francisco que seja “o defensor de um mundo, de uma igreja e de uma sociedade sem medos nem fingimentos”, onde os jovens sejam os protagonistas.
“Sonhamos com um mundo, uma Igreja e uma sociedade em que valha a pena sermos jovens sem medos ou fingimentos, onde nada nem ninguém nos roube a alegria de sonhar e viver, onde possamos ser quem somos, dando o nosso melhor e, mesmo quando erramos, quando falhamos, saber que estamos a caminho e a crescer, dando o nosso melhor e, sobretudo, que nunca deixamos de ser queridos e amados pelo nosso Jesus”, pode ler-se na carta citada pela Igreja Açores.
Um dos apelos da juventude açoriana ao Papa é para que “sonhe com eles e juntos sonhemos os sonhos de Deus”.
“Consigo, Papa Francisco, Jesus fica-nos mais perto e acessível! Obrigado! Obrigado pelo seu ‘Sim’ e pelo que é! Agora dizemos-lhe como já nos disse: ‘não deixe que lhe roubem a esperança, a ousadia e a alegria’”, refere a carta que fala sobre a importância dos jovens serem os protagonistas “do hoje” da Igreja e do “mundo”.
Segundo o sítio da Igreja Açores, “coragem”, “ousadia”, “fidelidade”, “testemunho”, “simplicidade” e “humildade” foram as atitudes mais sublinhadas na missiva que os jovens enviam para o Vaticano, assumindo o compromisso de não desistir da defesa dos valores cristãos.
“Não queremos deixar que nos roubem a esperança e a alegria! Mas, Santo Padre, há momentos em que é difícil que isso não aconteça! Há momentos em que parece que nada faz sentido, onde faltam-nos razões para continuarmos a acreditar!”, salientam, denunciando os “ventos contrários” e o “mar revolto” que tornam “difícil reconhecer e sentir que Jesus está na barca connosco e, mesmo dormindo, não nos deixa morrer!”.
Os jovens dão como exemplos a “guerra em vez do diálogo”; a “morte de crianças inocentes”; as “famílias desfeitas”; a “fome e a injustiça”, frisando que “é-nos difícil, como jovens, aceitar que na nossa Igreja ainda exista tanta hipocrisia e tanta falta de verdade, onde, por vezes custa-nos reconhecer Jesus na vida e na ação de tantos que se dizem cristãos!”, dizem ainda alertando para a primazia do “ritualismo” em detrimento do verdadeiro cristianismo.
Na ocasião, o Núncio Apostólico, D. Ivo Scapolo, recebeu a carta e pediu aos jovens, que preenchiam a Igreja de São José em Ponta Delgada, que “não se acomodem, que se levantem e que sejam protagonistas”.
Os jovens participaram no domingo à tarde numa via-sacra que inicialmente estava prevista para o Campo de São Francisco, em Ponta Delgada, mas que devido ao mau tempo acabou por ser realizada no interior da Igreja.
A iniciativa, que mobilizou também a catequese da ilha de São Miguel, particularmente os jovens do 7º ao 10 º ano, assentou em passagens bíblicas “mas procurou enquadrá-las no momento atual do mundo, com meditações, numa linguagem simples e direta, com muitas referências concretas à realidade quotidiana”.
Segundo a Igreja Açores, a via-sacra, orientada pelo responsáveis da pastoral juvenil, desafiou os presentes “a partir, subindo a via-dolorosa do ‘Jesus’ do nosso tempo, subindo ao Calvário das dores, angústias e esperanças de todos e de cada um, deste mundo e da nossa Igreja”.
Esta
manifestação da juventude açoriana, dois anos depois do inicio da
pandemia, serviu também para simbolizar a memória do Dia Mundial da
Juventude que, desde o ano passado, passou a ser celebrado no domingo do
Cristo Rei, depois de ter sido celebrado durante décadas no Domingo de
Ramos.