José Ramos-Horta reafirma vontade de diálogo após vitória
Timor-Leste/Eleições
20 de abr. de 2022, 12:11
— Lusa/AO Online
“A
mim a aos meus apoiantes principais não me surpreende o resultado, dado o
ambiente de adesão à minha campanha em todo o país e as nossas próprias
sondagens realizadas nos meses antes, até ao nível das aldeias”, disse
em declarações à Lusa.Ramos-Horta disse
que há ainda que esperar a conclusão da contagem pelo Secretariado
Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e depois o resto da
confirmação dos resultados, que lhe dão, com mais de 70% dos votos
contados, uma vantagem de 21 pontos percentuais sobre Francisco Guterres
Lú-Olo.Um dos resultados que marca a
votação é ao que tudo indica a derrota pela primeira vez da Fretilin,
que apoia a candidatura de Lú-Olo, no município de Lospalos, algo que
segundo Ramos-Horta deve levar o partido a uma reflexão.“Sim,
a perda de Lospalos é obviamente um acontecimento inédito e que dá uma
mensagem clara à liderança da Fretilin para repensar toda a sua
política, a sua imagem, porque o eleitorado mudou muito nos últimos 20
anos”, disse.“Aliás, todos nós devemos fazer um exercício de apreciação do resultado”, considerou.Ramos-Horta
considerou que além de um 'chumbo' ao atual chefe de Estado o resultado
representa igualmente um 'chumbo' do Governo e dos três partidos que o
formam, que apoiaram Lú-Olo na segunda volta.“Creio
que o Presidente, estando muito associado ao Governo e aos partidos que
estão no Governo, foi penalizado também. Para além dos factos que foram
muito debatidos durante dois anos, de violações dos poderes do
Presidente em termos da nossa Constituição e a forma como engendrou o
dito oitavo Governo”, afirmou Ramos-Horta.“O
Governo não conseguiu debelar a crise económica que é resultado em
grande parte da covid-19. Tendo à sua disposição o fundo petrolífero, a
crise económica e social e humanitária poderia ter sido muito mais
debelada do que foi”, afirmou.Ramos-Horta considerou que o povo timorense “fez um juízo” sobre esta atuação do Governo, que falhou na resposta à crise.Agora
abrem-se várias incógnitas, nomeadamente se Ramos-Horta vai ou não
avançar com a dissolução do parlamento, como exige o CNRT, de Xanana
Gusmão, maior partido a apoiar a sua candidatura.O CNRT questiona a legalidade do próprio presidente do parlamento, Aniceto Guterres Lopes, e do atual Governo.“Tomo
posse perante o parlamento, numa cerimónia agendada pelo presidente do
parlamento perante a nação e através do parlamento. Nenhum cenário é
excluído”, disse, questionado sobre se tomará posse com o parlamento
ainda liderado pelo atual presidente.Sobre
alterações na maioria, Ramos-Horta disse que “a democracia em geral é
extremamente dinâmica” e que a de Timor-Leste “é muito mais ainda”.“O
que importa para mim é diálogo com todos os partidos com assento no
parlamento para tentar criar um novo clima de cooperação que seja mais
saudável para a própria imagem do parlamento perante o eleitorado”,
afirmou.“Cada partido assente no
parlamento tem esse interesse, ao ver o resultado das eleições. Não
hesitarei em conversar com as bancadas, em grupo, um por um, para
encontrarmos uma solução para o impasse político que o país vive desde
2017”, considerou.Ramos-Horta, que toma
posse a 20 de maio, disse que o parlamento em si “é soberano,
independentemente de arranjos ocasionais que duram mais tempo ou menos
tempo”, e que as maiorias deixam de o ser para se formar outras, como
ocorreu com a atual.“Mas mesmo com a atual
maioria é possível dialogo para encontrar uma solução para evitar
quaisquer agudização da situação política e da crise económica, porque a
situação económica mundial é severa”, afirmou.Referindo-se
à situação na Ucrânia e ao impacto dos confinamentos na China na rede
mundial de abastecimento, Ramos-Horta disse que Timor-Leste tem que
estar preparado para responder a um agravamento da situação económica,
com aumento de preços e perda do poder de compra.Ramos-Horta
disse que depois de confirmado o resultado eleitoral vai começar o
diálogo com os partidos, dentro e fora do parlamento, que apoiaram a sua
candidatura, para ouvir “sensibilidades e prioridades”, considerando
que a preferência seria para os partidos no parlamento “iniciarem
diálogo entre si”.“E estou disponível para
conversar com o Presidente, Francisco Guterres Lú-Olo, por quem
continuo a nutrir muito respeito, com o primeiro-ministro, Taur Matan
Ruak, e com Mari Alkatiri, apesar de dizer que não precisa de mim. É o
secretário-geral do maior partido e conversarei com ele, se ele mudar de
opinião”, afirmou.