José Nuno da Câmara Pereira deixou "obra pautada por uma incessante renovação"
17 de jan. de 2018, 17:14
— Lusa/AO online
Castro Mendes recorda que o artista, conhecido como José Nuno, iniciou a sua carreira em 1974, com uma exposição em Lisboa."O
espírito desse tempo revolucionário parece ter firmado uma inquietação
criativa e um certo apelo à experimentação que o levou a trabalhar
proficuamente no campo da pintura, da escultura, da instalação, [e] do
vídeo", afirma ao ministro, referindo que, "na fragmentação e na
efemeridade com que foi construindo a sua produção, surgem, ainda assim,
permanências ou valores estéticos constantes como a evocação de
elementos naturais - a terra, o fogo, a água, que tão claramente
emanavam das suas origens açorianas -, e uma atenção particular aos
processos de evolução das substâncias, de entropia dos materiais, de
caos do mundo".O
ministro cita o artista plástico que, por ocasião da exposição
retrospetiva "Um Sísifo Feliz", organizada pelo curador José Porfírio,
afirmou: "O que eu pretendo é entrar verdadeiramente no tempo da
formação do universo".
"No seu percurso, salientaríamos igualmente o papel de pedagogo,
cultivado pela docência no Instituto de Arte e Decoração – IADE, no Arco
– Centro de Arte e Comunicação Visual, na Faculdade de Belas-Artes da
Universidade de Lisboa, e ainda os galardões com que foi agraciado, como
o prémio de instalação, no âmbito da III Exposição de Artes Plásticas
da Fundação Calouste Gulbenkian ou o primeiro prémio na exposição
AICA/[Associação Internacional de Críticos de Arte]-Philae, realizada na
Sociedade Nacional de Belas-Artes, ambos em 1986".José
Nuno Monteiro da Câmara Pereira, natural da ilha de Santa Maria, nos
Açores, morreu no domingo, aos 80 anos, em Lisboa, onde residia.O
diretor regional da Cultura, Nuno Lopes, disse que José Nuno da Câmara
Pereira "é um dos expoentes máximos da arte plástica açoriana, com
dimensão nacional e internacional".Entre
as suas principais exposições individuais, de acordo com a Carmina
Galeria, na Terceira, contam-se “Paisagens de Mito e Memória”, no Museu
Carlos Machado, em Ponta Delgada, e “Imaginação da Matéria”, na Central
Tejo, além da série "Transfiguras", para a coletiva “Histórica
Trágico-Marítima”, organizada pela AICA, na Sociedade Nacional de
Belas-Artes.“Recado
para Inês”, instalação na Igreja de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, "A
window on the Azores", no Newbedford Art Museum, nos EUA, e a mostra
itinerante "O riso de Buda em tempo de Guerra" são outras exposições
destacadas pela galeria açoriana.José
Nuno da Câmara Pereira expôs ainda, na década de 1980, na Feira
Internacional de Arte Contemporânea, no Grand Palais, em Paris, em
representação da Galeria Quadrum, e fez parte da coletiva “1984 o Futuro
é já hoje”, do Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, em
Lisboa.Decorou
as paredes do altar-mor e da entrada da Igreja Matriz de Almada, a
convite do arquiteto Nuno Teotónio Pereira, assinou as instalações de
homenagem a Goethe e Fernando Pessoa, no edifício Círculo de Leitores, e
os relevos da entrada e envolvente da escadaria da Biblioteca Pública
de Ponta Delgada, assim como o teto do Teatro Faialense, a convite do
arquiteto José Lamas.É
autor dos painéis de azulejos na Escola Secundária da Lagoa, São
Miguel, no Jardim dos Corte-Reais e no Jardim Público de Angra do
Heroísmo, e do Jardim de Pedra para as Vinhas do Pico, nos Açores.Foi
premiado pela 1.ª Bienal dos Açores e Atlântico, na III Exposição de
Artes Plásticas Fundação Calouste Gulbenkian, pela Associação
Internacional de Críticos de Arte e pela Direção Regional da Cultura
Açores, entre outras instituições.O artista foi distinguido em 2010 nas cerimónias oficiais do Dia dos Açores.Em
2016, foi organizada uma exposição retrospetiva da sua obra, no Centro
de Artes Contemporâneas - Arquipélago -, na Ribeira Grande, S. Miguel,
comissariada por José Luís Porfírio, com o título "Um Sísifo Feliz", que
reconstruiu uma das suas principais instalações, "Paisagem ou Mar de
Lama", de 1986.