José Azevedo do Livre demite-se contra posições do partido sobre Médio Oriente e Ucrânia
12 de nov. de 2024, 18:05
— Lusa/AO Online
Em
declarações à agência Lusa, José Azevedo, que fez parte da lista
integrada por Rui Tavares para o Grupo de Contacto do partido no
congresso de maio, justificou a sua demissão sobretudo com “divergências
com posições públicas do partido sobre temas militares, em particular
em relação à guerra na Ucrânia e ao genocídio de Israel em Gaza”.José
Azevedo salientou que, apesar da sua demissão, vai continuar como
militante do Livre por entender que esta força política é necessária.“Sinto responsabilidade para contribuir para que o Livre cumpra a sua missão”, acrescentou.Recentemente,
o Livre votou a favor na Assembleia da República de um voto apresentado
pela Comissão de Assuntos Europeus que saudava a reeleição de Ursula
von der Leyen como presidente da Comissão Europeia, e no passado dia 18
de outubro deu ‘luz verde’ a uma resolução da IL que recomendou ao
Governo que inicie o procedimento, junto do Conselho da União Europeia,
para que a Guarda Revolucionária Iraniana seja designada como uma
organização terrorista.Tema internacional
que também está a gerar alguma discórdia interna é a recente subscrição
do partido de um comunicado dos Verdes Europeus - família europeia da
qual o Livre faz parte como membro efetivo - emitido no passado dia 01
de novembro.Este comunicado apelava à
candidata do Partido Verde dos Estados Unidos da América, Jill Stein,
para se retirar da corrida e apoiar a democrata Kamala Harris – que
acabou por perder as eleições presidenciais norte-americanas para o
republicano Donald Trump.Na quarta-feira, a
Assembleia do Livre – órgão máximo entre congressos - vai debater um
documento, ao qual a Lusa teve acesso, subscrito por seis membros deste
órgão (de um total de 50) que contestam a subscrição pelo partido do
comunicado dos Verdes Europeus.Estes
dirigentes queixam-se que a subscrição do Livre deste comunicado foi
feita “sem consulta prévia dos seus membros e apoiantes, que foram
informados desta tomada de posição por fontes externas ao Livre,
tornando este processo pouco transparente e causando desconforto entre
os seus filiados”.O texto, em formato de
moção de rejeição, quer que a Assembleia do Livre condene o comunicado
dos Verdes Europeus, “que apresenta um apoio explícito à candidatura de
Kamala Harris pelo Partido Democrata, que se baseia na manutenção do
‘status quo’ da acumulação de capital nos muito ricos e no imperialismo
global dos Estados Unidos, cruzando várias linhas vermelhas em valores e
posições políticas fundacionais do Livre”.“O
comunicado diz, e citamos, «a Europa precisa de Kamala Harris como
Presidente dos EUA, para ser uma parceira fiável (...) e trazer uma paz
justa e sustentável ao Médio Oriente», numa clara alusão a uma posição
que é impensável no Livre perante a Palestina: o apoio ao Estado de
Israel e a sua cumplicidade com o genocídio do povo palestiniano”, lê-se
no texto.“A posição do Livre é inquestionável sobre a Palestina; a deste comunicado não o é”, criticam.Estes
dirigentes também criticam o processo que levou à subscrição do texto
dos Verdes Europeus, acusando a direção de ter tomado uma “decisão
unilateral” que “contornou o órgão deliberativo do partido e o órgão
máximo entre Congressos”.“Consideramos que
a subscrição do LIVRE careceu de um debate interno acerca das
implicações, objetivos e resultados esperados desta subscrição. Apelamos
a uma maior ponderação na tomada de decisões políticas e a uma revisão e
reflexão alargadas sobre o papel do Livre no seu partido Europeu e
respetiva evolução”, rematam.