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Jornalismo regional precisa de mais apoios e mais profissionais

Conclusões do I Congresso dos Jornalistas dos Açores apontam para um Promédia desajustado da realidade, a necessidade de combater a precariedade e ir além da agenda das instituições


Autor: Nuno Martins Neves

Foram três dias em que o jornalismo açoriano esteve em introspeção e análise no I Congresso dos Jornalistas dos Açores e as suas conclusões apontam para uma classe onde escasseiam profissionais e abunda precariedade que compromete o seu papel de informar e escrutinar os poderes.

A presidente da direção regional do Sindicato dos Jornalistas, Marta Silva, encarregou-se de ler as conclusões dos seis painéis do congresso, onde a falta de apoios e condições foi uma constante.

Sobre a comunicação privada, a situação frágil por quebra de receitas e aumento dos custos de produção “pede” por apoios mais robustos. O Promédia foi considerado desajustado, sendo necessários novos mecanismos, como “incentivos à leitura, isenções fiscais ou regras de mecenato específicas para as empresas que investem em publicidade”.

Quanto ao Serviço Público, a maior crítica foi ao conformismo com a agenda política por parte dos jornalistas, bem como a falta de renovação dos recursos humanos à custa da precariedade e baixos salários, razões que “minam a sua credibilidade e relevância”. Foi ainda concluído que a rádio e televisão pública dos Açores deve ter um modelo de financiamento diferenciado em relação à Madeira, tendo em conta os sobrecustos que advém da dispersão geográfica.

Relativamente o ensino e o mercado laboral, o congresso assinalou que os licenciados têm vantagem sobre os não qualificados, em termos de empregabilidade, segundo estudo da Universidade dos Açores. Foi ainda revelado um panorama de exaustão emocional e patologia da sobrecarga do trabalho, pelos dados do inquérito às condições de trabalho dos jornalistas.

O combate à desinformação, numa era de emergência da Inteligência Artificial, exige dotar de melhores condições os jornalistas, que enfrentam redações reduzidas, excesso de trabalho, baixos salários e precariedade laboral, mas também uma aposta na literacia para os media.

Para incrementar o jornalismo de investigação na Região, a criação de um consórcio de jornalistas foi uma das soluções apontadas para que este tipo de jornalismo ganhe “raízes e escala”.

Quanto ao futuro do jornalismo, o acesso à informação deve ser “aberto e livre”, não podendo ser um benefício de classe e o jornalismo não pode ser feito à custa das condições de trabalho.

“No mínimo, este Congresso conseguiu colocar o jornalismo, na Agenda mediática durante uma semana. Coisa rara! No máximo, ainda é cedo para conhecer o alcance”, finalizou Marta Silva.