Jornal holandês denuncia alegados abusos sexuais de ex-bispo de Díli, Ximenes Belo
28 de set. de 2022, 11:14
— Lusa/AO Online
Na
sua edição online, o jornal explica ter ouvido várias vítimas e vinte
pessoas com conhecimento do caso, incluindo “individualidades, membros
do Governo, políticos, funcionários de organizações da sociedade civil e
elementos da Igreja”.“Mais de metade das
pessoas pessoalmente conhecem uma vítima dos abusos e outros têm
conhecimento do caso. O De Groene Amsterdammer falou com outras vítimas
que recusaram contar a sua história nos media”, refere a jornalista
Tjirske Lingsma.“O Paulo e Roberto”, as
duas alegadas vítimas entrevistadas para o artigo, “conhecem outras
vítimas”, refere o jornal, um dos principais semanários do país.O
jornal explica que as primeiras investigações a este alegado abuso
remontam a 2002, quando um timorense denunciou que o seu irmão era
vítimas de abusos.Em novembro desse ano,
Ximenes Belo anunciou a sua resignação do cargo, alegando, problemas de
saúde e a necessidade de um longo período de recuperação.“Estou
a sofrer de fadiga mental e física, o que requer um longo período de
recuperação”, referiu Ximenes Belo num comunicado em que informava ter
escrito à Santa Sé solicitando a renúncia do cargo de Administrador
Apostólico de Díli, função que exercia desde 1983.“Tenho
vindo a sofrer de esgotamento, cansaço físico e psicológico, pelo que
necessito de um longo período de repouso em vista de uma recuperação
total da minha saúde”, referia o comunicado, citado então pela Lusa.Ximenes
Belo, hoje com 74 anos, explicou que o seu pedido – escrito com base no
Cânone 401 do código de direito canónico - foi aceite pelo então Papa
João Paulo II.Em entrevista à agência de
notícias católica UCA News, em 2004, explicava que saiu do cargo em Díli
para ser sacerdote assistente em Moçambique, estando atualmente a
residir em Portugal.A saída de Ximenes
Belo de Timor-Leste causou grande surpresa na sociedade timorense,
porque, até então, o bispo nunca havia indicado essa vontade de
abandonar o cargo.O jornal holandês refere
que os alegados abusos terão começado ainda antes de Ximenes Belo ser
nomeado bispo, quando ainda era superior nos Salesianos de Dom Bosco, e
Díli, na década de 1980.Os timorenses
citados no artigo referem alegados abusos cometidos na década de 1990.
Hoje com 42 anos, Paulo, como uma das vítimas é identificado, alega que
quando ainda era menor foi alvo de abusos sexuais na casa de Ximenes
Belo, por troca de dinheiro.Algumas
primeiras denúncias dos alegados abusos foram dadas a conhecer a
jornalistas no início do século, como nota o jornalista.Formalmente,
porém, não há detalhes públicos sobre se as denúncias chegaram a ser
formalizadas quer junto das autoridades policiais quer junto do
Vaticano.Ainda assim, os contornos da
saída de Ximenes Belo de Timor-Leste, em novembro de 2002, nunca foram
totalmente clarificados pelo Vaticano, com o assunto a tornar-se tabu no
país.Em 2020, em declarações à Lusa, um
elemento superior da Igreja Católica em Díli, que solicitou o anonimato,
escusou-se a revelar se houve ou não uma demissão formal de Ximenes
Belo pelo então papa João Paulo II.A mesma
fonte referiu-se, porém, ao que disse serem “instruções” para “ter um
perfil baixo, não viajar, não mostrar insígnias episcopais, ter uma
atitude modesta”.Parte do silêncio sobre o
Nobel da Paz deve-se, admitiu a mesma fonte, ao facto da postura do
Vaticano relativamente a abusos sexuais na Igreja ter mudado com os dois
últimos papas, com a adoção de uma política de “tolerância zero”.“Houve
esta progressiva consciencialização da Igreja sobre a gravidade do
assunto e sobre a atitude, a reação que a Igreja deve ter para expulsar e
corrigir ao máximo possível este crime dentro da igreja, especialmente
dentro do clero”, afirmou a mesma fonte.“Isso
foi particularmente assim, especialmente com o papa Bento XVI e com o
Papa Francisco. E a tolerância zero vale em todos os casos, e também em
Timor”, explicou.Neste tipo de crimes,
disse, independente do que possa ocorrer na legislação criminal dos
vários países, para a Igreja “não há prescrição, e mesmo anos depois de
investigados recebem a sanção jurídica e penal” da Santa Sé.