Jornais europeus acompanharam guerra civil portuguesa por via dos Açores
19 de nov. de 2019, 15:18
— Lusa/AO Online
O jornalista
da RTP/Açores Victor Alves, que acaba de publicar o livro "Guerra Civil
Portuguesa (1828-1834)", onde faz uma abordagem à forma como a imprensa
internacional seguiu as lutas liberais na Terceira e no país, declarou à
agência Lusa que eram os capitães das embarcações, predominantemente
inglesas, que vinham aos Açores, por via do comércio da laranja, que
levavam a informação."Eram os comandantes
das embarcações que vinham para os Açores no âmbito do comércio da
laranja, particularmente para São Miguel e Terceira, que levavam a
informação. Esta saía em catadupa a partir de São Miguel para o
estrangeiro porque havia um contacto entre a Praia da Vitória e a costa
daquela ilha composta pela Ferraria, Ginetes e Mosteiros", declara o
jornalista.Segundo os historiadores, os
Açores desempenharam um papel importante nas lutas liberais, sendo que a
11 de agosto de 1829 teve lugar na Terceira a maior batalha contra o
miguelismo, com o exército de D. Miguel, que viria a sair derrotado, a
tentar desembarcar na Praia da Vitória, com os seus 4.000 homens.Como
recompensa ao apoio dado à causa liberal, D. Maria II atribuiu, a
Angra, o cognome de “mui nobre leal e sempre constante cidade de Angra
do Heroísmo” e o de “muito notável” à Praia da Vitória.Victor
Alves explica que Portugal “era um país amordaçado na altura, não
possuindo jornais”, existindo apenas a Gazeta de Lisboa, que “nada mais
era do que a voz do dono, um repositório de decretos, de lamúrias da
corte, uma descrição de passeios do rei em Lisboa e arredores,
escondendo-se o que estava a passar-se”.De
acordo com o jornalista, a informação “seguia em cartas de
correspondentes anónimos que existiam em São Miguel e Terceira”, que
assim “arriscavam a própria vida”, saindo para Inglaterra e França, a
par da Escócia e Irlanda, com os jornais a abordarem a temática. O
jornalista, nas suas pesquisas pelos jornais europeus, constatou que a
informação, a partir de 1828, sobre a situação em Portugal, começou a
ser abordada “com grande intensidade”, havendo “debates muito acesos nos
parlamentos desses países” sobre esta matéria, resultante da
preocupação que havia sobre o Atlântico e os Açores, que eram a “chave
do comércio” entre as placas europeia e americana.Os
liberais refugiados na ilha Terceira, oriundos da Inglaterra, chegaram a
ser cerca de cinco mil, estimando-se que cerca de 300 navios
deslocavam-se aos Açores por causa do comércio da laranja.Victor
Alves afirma que a partir de 1828, os jornais europeus “possuíam mesmo
relatos semanais sobre a situação em Portugal e, particularmente na
Terceira”, no que considerou ser uma “uma visão de fora para dentro" que
resolveu agora partilhar em livro, além das várias teses académicas e
publicações que existem sobre este período da história portuguesa.