Jorge Sampaio defende legalização de canábis para fins terapêuticos
10 de jan. de 2018, 10:02
— Lusa/AO online
O
debate "não só é necessário, havendo evidência empírica e argumentos
sólidos a favor da sua legalização para fins medicinais, dentro,
naturalmente, de um quadro devidamente regulado e controlado", vincou,
entrevistado pela Lusa enquanto membro da Comissão Global sobre Política
de Drogas, que hoje publicou o mais recente relatório intitulado "The
World Drug Perception Problem" [O Problema Global da Perceção das DrogasSampaio
acredita também, que a política portuguesa de descriminalização da
posse de droga para consumo pessoal, considerado um modelo a nível
internacional, é um sistema que pode e deve ser aperfeiçoado. "É
preciso manter uma abordagem abrangente e evolutiva que permita a
formulação de políticas, baseadas em informação científica fiável e que
acompanhe os desafios novos que se colocam", afirmou à agência Lusa.O
antigo chefe de Estado referiu, a título de exemplo, a discussão sobre o
uso de canábis para fins terapêuticos, que vai subir ao plenário,
suscitada pelos projetos de lei apresentados pelo Bloco de Esquerda e o
pelo partido Pessoas-Animais–Natureza (PAN).Jorge
Sampaio foi entrevistado pela Lusa enquanto membro da Comissão Global
sobre Política de Drogas, que hoje publicou o mais recente relatório
intitulado "The World Drug Perception Problem" [O Problema Global da
Perceção das Drogas]. No
documento, o caso português é apontado como um sucesso, contribuindo
para a redução da criminalidade e de casos de VIH entre
toxicodependentes, mas Sampaio admite que é possível e desejável
aperfeiçoar o sistema ao nível da prevenção da toxicodependência, da
redução de riscos e do próprio tratamento. "Há
que monitorizar periodicamente as práticas e os resultados das
políticas na área das drogas e das toxicodependências, por forma a
avaliar a sua eficácia e adequação a uma realidade que também ela vai
evoluindo, sem esquecer a própria perceção na sociedade sobre as
estratégias que funcionam e as que fracassam", afirmou, além de trabalho
multidisciplinar que deve envolver profissionais de saúde, educadores,
agentes do Estado e vários setores da sociedade civil.Embora
reconheça o impacto negativo que o consumo de drogas pode ter na vida
das pessoas, os autores do relatório hoje publicado consideram que as
reformas das políticas têm sido difíceis de realizar, projetar ou
implementar devido aos preconceitos e valores morais prevalecentes. O
documento procura analisar as perceções e medos mais comuns,
confrontá-los com factos disponível sobre drogas e sobre as pessoas que
as consomem e, consequentemente, recomendar mudanças que podem ser
promulgadas para apoiar reformas para políticas de drogas mais efetivas.Em
Portugal, Sampaio recorda que o consenso alcançado sobre esta matéria
foi o resultado de uma necessidade de responder à prevalência da
toxicodependência na sociedade e á "clara perceção, partilhada por
vastos setores da opinião pública, que as políticas baseadas na
repressão e na punição não estavam a resultar". Jorge
Sampaio tem sido coautor de vários artigos a nível internacional sobre
este tema e ativo na Comissão, que foi formada em 2011 com o objetivo de
promover um debate sobre políticas de drogas, reunindo dados e
informações científicas sobre os efeitos e o impacto dos modelos de
diferentes países. Na
sua opinião, a Comissão tem desempenhado um papel "muito relevante
neste processo de mudança de paradigma", nomeadamente na preconização do
próximo passo a dar: "Para além da descriminalização, que está ainda
longe de ser o modelo dominante, deveria ser o da regulação dos mercados
das drogas".Perceções
erradas sobre o consumo de drogas alimentam políticas de proibição e
repressão que continuam sem resolver o problema, alerta o relatório
internacional publicado hoje em Londres, em que Portugal é considerado
um exemplo positivo. O
relatório, produzido pela Comissão Global sobre Política de Drogas,
pretende desmistificar juízos feitos sobre o tema por jornalistas e
líderes de opinião, políticos ou pelas autoridades. A
Comissão é composta por 25 membros com experiência como líderes
políticos, científicos e empresariais, incluindo 12 ex-chefes de estado
ou ministros, um ex-secretário-geral da ONU e três Prémio Nobel.