Joe Biden prepara propostas para reformar o Supremo Tribunal dos EUA
29 de jul. de 2024, 11:15
— Lusa/AO Online
O
chefe de Estado deve revelar as novas medidas num discurso em Austin,
Estado do Texas, onde pode vir a defender uma emenda constitucional
capaz de anular a recente decisão do Supremo Tribunal que apoia a
imunidade de Donald Trump, candidato presidencial republicano às
eleições de novembro.Biden quer também
limitar o número de mandatos dos juízes do Supremo Tribunal, que
atualmente exercem funções vitalícias, na sequência de decisões como a
revogação do caso "Roe versus Wade", que durante várias décadas garantiu
o direito ao aborto.Joe Biden pretende também a adoção de um código de ética para os juízes do Supremo Tribunal."Esta
nação (Estados Unidos) foi fundada com base num princípio simples mas
profundo: ninguém está acima da lei. Nem o Presidente dos Estados
Unidos. Nem um juiz do Supremo Tribunal dos Estados Unidos.
Ninguém", refere Joe Biden num artigo de opinião que foi publicado hoje."O
que está a acontecer agora não é normal e mina a confiança nas decisões
do Tribunal (Supremo), incluindo as que têm impacto nas liberdades
individuais. Encontramo-nos agora numa situação de rutura", afirma o
chefe de Estado.Entretanto, o gabinete
presidencial, citado pela Agência France Presse, disse que Joe Biden e a
vice-presidente Kamala Harris, a provável candidata democrata nas
eleições de novembro, querem "trabalhar com o Congresso nestes planos",
durante os próximos meses. Mesmo assim, as intenções da Casa Branca têm de ultrapassar as profundas divisões que se verificam no Congresso.Segundo
a France Presse, as propostas refletem a crescente frustração de Joe
Biden com um Tribunal repleto de juízes nomeados por Donald Trump, e
numa altura em que as sondagens de opinião mostram uma crescente perda
de confiança na instituição.Biden tem
resistido aos apelos para rever ou reformar o Supremo Tribunal, que é
composto por nove juízes nomeados a título vitalício. Segundo
fontes da Casa Branca, citadas pela AFP, Joe Biden vai agora tentar
limitar o mandato dos juízes do Supremo Tribunal a 18 anos, com novos
juízes nomeados de dois em dois anos.Esta medida "reduziria o risco de uma única presidência impor uma influência indevida às gerações futuras".Este
ano, o Supremo Tribunal reduziu significativamente o poder das agências
federais e, ao mesmo tempo, decidiu em julho a favor dos pedidos de
imunidade do candidato republicano Donald Trump.O
candidato republicano está a usar esta decisão para contestar, entre
outros processos, a recente condenação criminal num caso que envolveu
pagamentos secretos a uma atriz de filmes pornográficos.Joe
Biden pretende também a adoção de um código de ética "vinculativo e
aplicável" semelhante ao que se aplica aos juízes federais.Dos nove juízes do Tribunal, seis são conservadores sendo que metade foram nomeados por Donald Trump.O Supremo Tribunal tem sido abalado por escândalos que envolvem alguns dos juízes ultraconservadores.O
juiz Clarence Thomas admitiu recentemente que passou dois períodos de
férias de luxo em 2019 pagos por um financiador do Partido Republicano.O
decano do Supremo Tribunal, de 76 anos, também ignorou os apelos para
se retirar de casos relacionados com as eleições presidenciais de 2020,
depois de a mulher com quem é casado ter estado envolvida na campanha
para manter Donald Trump no poder.O juiz Samuel Alito rejeitou igualmente os pedidos para se retirar de certos casos ligados a Donald Trump.Steven
Schwinn, professor de Direito na Universidade de Illinois, Chicago,
disse à AFP que as hipóteses de Biden de aprovar novas medidas "são
quase iguais a zero", acrescentando que o chefe de Estado está
"provavelmente" a tentar "sensibilizar os cidadãos" e a "apresentar o
Supremo Tribunal como uma questão eleitoral".