João Gomes Cravinho diz que UE "não se deixará intimidar" por ameaças de Putin
Ucrânia
22 de set. de 2022, 12:43
— Lusa/AO Online
Em
declarações à imprensa portuguesa, no final de uma reunião de
emergência de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, na
quarta-feira, em Nova Iorque, João Gomes Cravinho declarou que "foi
unânime" o sentimento partilhado por todos os homólogos no encontro."Não
há decisões formais, porque isto não foi uma reunião formal. Contudo, é
uma reunião que teve uma presença da grande maioria dos MNE e,
portanto, permitiu tirar o pulso político daquilo que é o sentimento
coletivo em relação a três novas dimensões que resultam do discurso do
Presidente Putin: em primeiro lugar, a sua decisão quanto à mobilização
parcial; segundo, a ideia de avançar com referendos ilegais que permitem
a anexação do território ucraniano pela Rússia; e terceiro, muito
lamentavelmente, as suas ameaças explícitas em relação à utilização de
armas de destruição maciça", afirmou."O
sentimento partilhado por todos, unânime, nesta reunião, foi que a União
Europeia não se deixará intimidar. A União Europeia não pode aceitar
este tipo de atitude, continuará firme no seu apoio à Ucrânia e haverá
agora, naturalmente, um reforço de sanções que serão discutidas logo que
houver oportunidade para reuniões formais", declarou o chefe da
diplomacia portuguesa.Na quarta-feira, o
Presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou a mobilização de 300 mil
reservistas para a guerra na Ucrânia, a realização de referendos para a
anexação de territórios ucranianos e prometeu recorrer a "todos os meios
ao seu dispor" para proteger o país, numa alusão ao armamento nuclear,
acrescentando: "isto não é bluff".No final
de uma reunião de emergência, na quarta-feira, em Nova Iorque, o chefe
da diplomacia europeia, Josep Borrell, anunciou que vai manter a ajuda
militar à Ucrânia e aumentar as sanções à Rússia."Foi
uma decisão tomada rapidamente nesta reunião de emergência do conselho
de ministros dos Negócios Estrangeiros e que demonstra a determinação da
União Europeia em continuar a ajudar a Ucrânia a enfrentar a agressão
russa", salientou.Borrell remeteu para
mais tarde as medidas detalhadas, referindo que só poderão ser definidas
numa reunião formal, e manifestou-se certo de que será alcançado "um
acordo unânime para as novas sanções".João Gomes Cravinho frisou que Portugal vai apoiar esta decisão coletiva. "Perante
esta atitude russa, do Presidente Putin, não podemos ficar
indiferentes. Reforçaremos as sanções, reiteraremos o nosso apoio à
Ucrânia. E na declaração conjunta que saiu desta reunião há também a
referência à continuação do apoio com equipamento militar para que a
Ucrânia se possa defender contra esta agressão russa", indicou.Durante
a tarde de hoje, João Gomes Cravinho, que se encontra em Nova Iorque
para a 77.ª Assembleia-Geral da ONU, vai participar numa reunião da
NATO. A expectativa do ministro para esse
encontro é que vai encontrar "exatamente o mesmo estado de espírito, que
é o de firmeza no apoio à Ucrânia e de não se deixar intimidar" pelas
ameaças de Moscovo."Creio que,
naturalmente, nos preocupam os sinais de desespero, sinais de
desorientação que saem de Moscovo. Preocupa-nos também o sinal que é
dado, que é um sinal de que estão dispostos a tudo para não perder a
face. Mas há que apostar na finalidade e a racionalidade aponta para a
necessidade de encontrarmos uma saída que passe pela retirada das forças
russas da Ucrânia", salientou. Antes do
início da reunião de emergência dos MNE em Nova Iorque, o embaixador da
Ucrânia na ONU, Sergiy Kyslytsya, disse a jornalistas que Putin "não
poderia importar-se menos com os milhares de cidadãos russos que envia
para a frente da guerra para serem mortos", assegurando que a Ucrânia
"não tem medo" das ameaças do Kremlin.Ao
ser questionado pela Lusa sobre essas declarações de Kyslytsya, Cravinho
afirmou que foi precisamente essa "enorme determinação" que sentiu
quando visitou a Ucrânia, em finais de agosto, avaliando que essa é a
atitude “natural para quem tem a sua casa invadida e precisa de a
defender". "Essa atitude ucraniana,
naturalmente que também é reforçada pelo apoio que sentem por parte dos
países amigos na Europa e no espaço transatlântico", acrescentou.A
ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia
causou já a fuga de quase 13 milhões de pessoas – mais de seis milhões
de deslocados internos e quase sete milhões para os países vizinhos -,
de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise
de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945).A invasão russa – justificada
pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de
“desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi
condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem
respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de
sanções em todos os setores, da banca à energia e ao desporto.