Joana Marques Vidal sugerida para presidir a grupo de trabalho
Corrupção
9 de dez. de 2019, 13:05
— Lusa/AO Online
António Ventinhas falava à agência
sobre a decisão do Governo de criar um grupo de trabalho na área da
justiça para que defina até abril próximo uma estratégia integrada de
combate à corrupção, considerando que a ex-Procuradora-Geral da
República (PGR) Joana Marques Vidal seria uma escolha acertada para
presidir aquele grupo que integra elementos da PGR, do Conselho Superior
da Magistratura, do Conselho de Prevenção da Corrupção e académicos.
Quanto à iniciativa do Governo de criar o grupo de trabalho, o
presidente do sindicato (SMMP) referiu que é "positivo haver uma
estratégia integrada" de combate à corrupção, mas alertou que não basta
aprovar um pacote de medidas anticorrupção, sendo necessário
"concretizar essas medidas" porque "já se viu muitos anúncios no
passado" sobre essa matéria. A este
propósito, António Ventinhas frisou que está previsto na lei há mais de
uma década a criação dos gabinetes de assessoria técnica e, contudo,
"ainda não foram instalados".O presidente
do SMMP reconheceu também que a maioria das medidas anticorrupção
aprovadas no Pacto para a Justiça não chegaram a ser concretizadas,
lembrando, por outro lado, que não houve acordo sobre a
delação/colaboração premiada ou o enriquecimento ilícito.O
Pacto para a Justiça já previa o reforço dos quadros de juízes,
procuradores e funcionários quer nos tribunais, quer nos Departamentos
de Investigação e Ação Penal (DIAP) e no Departamento Central de
Investigação e Ação Penal (DCIAP), que lida com a criminalidade
económico-financeira mais grave, complexa e sofisticada.O
Pacto previa igualmente a criação de equipas multidisciplinares para
efetuar perícias junto do DCIAP e dos DIAP distritais e a definição de
um regime legal que articule a prestação de perícias por entidades
públicas como o DCIAP.António Ventinhas
diz aguardar que as medidas que agora vierem a ser propostas pelo grupo
de trabalho venham "a ser concretizadas", chamando a atenção para o
facto de o "Ministério Público e a Polícia Judiciária estarem
completamente depauperados de meios humanos e ao nível das perícias".Recentemente,
disse, houve muitas dificuldades em contratar técnicos para realizarem
perícias informáticas para a PGR/DCIAP, admitindo que essas dificuldades
resultam das contrapartidas remuneratórias pouco atrativas."Tem
de haver uma perspetiva integrada que dê não só instrumentos legais,
mas também instrumentos humanos e materias", enfatizou António
Ventinhas. A criação de juízos especiais
para julgar corrupção e crimes conexos, a possibilidade de os arguidos
fazerem acordos em julgamento e melhorar a lei sobre o direito premial
são algumas das intenções há dias avançadas pelo Governo para serem
analisadas pelo grupo de trabalho agora criado e que funcionará na
dependência direta da ministra da justiça, Francisca Van Dunem.Fonte
oficial disse à agência Lusa que estas e outras sugestões serão
analisadas a partir de janeiro pelo grupo de trabalho da justiça,
anunciado na quinta-feira, e que vai apresentar o seu relatório com
propostas concretas em finais de abril.Hoje
assinala-se o Dia Internacional de Combate à Corrupção e é convicção do
Governo que é necessário encontrar formas de investigar e julgar em
menos tempo os processos de corrupção e evitar a construção de
megaprocessos.Para isso, sugere uma fonte
do Ministério da Justiça, é preciso fazer uma intervenção no Código
Processo Penal (CPP) para o tornar uma ferramenta mais clara e ágil.Segundo
a mesma fonte, é urgente alterar o método de “montar” os processos por
forma a evitar os “casos gigantes”, já que isso impede a eficácia e a
compreensão dos cidadãos sobre a aplicação da justiça.Outros
dos problemas detetado na área dos crimes económico-financeiros e que
vai ser abordado pelo grupo de trabalho é a falta de capacidade do MP
para aplicar a figura do direito premial (que permite a redução da
condenação).No pacote de medidas que cabem
na estratégia nacional de combate à corrupção consta ainda a criação de
juízos especializados nos tribunais para julgar este crime e crimes
conexos apostando na especialização tal como já fez o MP na fase de
investigação. A juntar à já existente
possibilidade de os arguidos beneficiarem da suspensão provisória do
processo, através da aplicação de uma injunção para o pagamento do que é
devido ao Estado, a mesma fonte considera que é admissível criar um
acordo negociado de sentença, isto é, o arguido admite crime e culpa,
dispõe-se a devolver o produto conseguido através do crime económico e
em contrapartida o juiz propõe uma pena efetiva reduzida.
Outro dos objetivos do Governo é obrigar as entidades administrativas a
aderirem a códigos de conduta, dotar algumas entidades administrativas
de um departamento de controlo interno que assegure a transparência e
imparcialidade dos procedimentos e decisões, melhorar os processos de
contratação pública, reforçar a transparência das contas dos partidos
políticos e obrigar as empresas a terem planos de prevenção de riscos de
corrupção e infrações conexas.