Joacine considera que corte com Livre foi “altamente benéfico” porque o partido a sufocava
23 de mai. de 2020, 13:03
— LUSA/AO online
“Enquanto deputada não inscrita tenho tido a
hipótese de trabalhar muito mais e em melhores condições e com um
oxigénio enorme, embora com poucos recursos. O partido, para mim, foi um
sufoco enorme. Era eu a desejar andar para a frente, e eles a
puxarem-me para trás”, confidenciou, acrescentando que “foi altamente
benéfico, digamos assim, este corte do cordão umbilical”.Naquela
que é a primeira entrevista desde que o partido lhe retirou a confiança
política – e passou de deputada única a deputada não inscrita – Joacine
Katar Moreira refere que ainda “há imensa coisa que precisa de ser
esclarecida, confrontada, desautorizada, verificada” em torno do que
levou à rutura com o Livre, mas mostra-se convicta de que houve “uma
conjugação de interesses que tinha como objetivo afetar” a sua imagem e
desacreditá-la “moral e politicamente”.Instada
a concretizar quais são esses interesses, a parlamentar disse ainda não
fazer “a menor ideia, só daqui a alguns anos é que se irá olhar com
algum distanciamento”.Sobre as polémicas
em que se viu envolvida no início do mandato, Joacine Katar Moreira
apontou que “as ansiedades não começaram depois da tomada de posse, o
ambiente no partido já não era bom antes das eleições, semanas antes”.“Era
óbvio que a minha ótica não era igual a uma parte dos elementos do
partido. A campanha das eleições legislativas foi uma campanha à minha
imagem e semelhança – antirracista, pela igualdade, feminista, que
habitualmente não eram as bandeiras usuais [do Livre]. Mas avisei
imediatamente de que ia levar até ao final da legislatura o que andei a
dizer aos eleitores e às eleitoras e a defender durante a campanha”,
concretizou.Joacine acusa também o Livre de não apoiar “em momento algum” o trabalho legislativo através da subvenção partidária.Questionada
se pondera criar um partido com base nessas bandeiras, Joacine disse
que “não é ainda hora de estar a imaginar a criação de um partido para
daqui a quatro anos”, mas admitiu que “houve algumas manifestações neste
sentido”.Joacine Katar Moreira foi a
primeira mulher negra a encabeçar uma lista de um partido a eleições
legislativas e foi eleita no ano passado, pelo Livre, partido que lhe
retirou a confiança política e do qual se desfiliou. Mantém-se como
deputada não inscrita desde fevereiro.À
pergunta sobre porque é que não foi possível um entendimento com o Livre
que evitasse este desfecho, a deputada respondeu que os dirigentes do
partido “é que precisam de encontrar esses argumentos e justificar
isto”, uma vez que foram eles que decidiram retirar-lhe a confiança
política, acrescentando que mantém “os pilares” da sua eleição.“Os
argumentos que eles usaram na época são argumentos que entraram na onda
da desinformação, que já estava no auge, da desinformação em relação a
mim, do incitamento ao ódio em relação a mim. Eles usaram isto. São
argumentos que não convencem ninguém que não deseje ser convencido,
argumentos refutáveis facilmente”, salientou.Quanto
às eleições presidenciais do próximo ano a deputada não inscrita recusa
adiantar quem irá apoiar enquanto não existir “uma lista de todos os
candidatos”, mas assinala que “os nomes que surgem não são nomes nos
quais votaria”.Sobre o atual Presidente da
República, diz que Marcelo Rebelo de Sousa “conseguiu ter uma atitude e
um comportamento que o aproxima dos cidadãos”, algo que considera
“positivo”.Porém, “ideologicamente não será o meu candidato”, vincou.