Autor: Ao Lusa
Jerónimo de Sousa reagia perante os jornalistas ao teor do discurso proferido pelo chefe de Estado, Cavaco Silva, na sessão solene comemorativa dos 40 anos do 25 de Abril.
"O Presidente da República aprofundou a teoria de São Tomás: Olhem para o que diz e não para o que faz. Como pode o Presidente da República manifestar tanta preocupação face ao desemprego, aos ataques aos reformados e aos salários dos trabalhadores e, simultaneamente, ratificar e aprovar o que foram no essencial as propostas pelo Governo?", interrogou-se o líder comunista.
De acordo com o secretário-geral do PCP, a intervenção de Cavaco Silva "não acertou com aquilo que ele próprio aprovou e é corresponsável no plano desta política".
Interrogado como interpretou a referência do Presidente da República ao cerco da Assembleia Constituinte, em novembro de 1975, Jerónimo de Sousa classificou essa alusão como "um pequeno sinal de algum revanchismo".
"O Presidente da República não sabe o que se passou. Enfim, não se tratou de nenhum cerco ao parlamento, porque nem havia parlamento nessa altura, apenas uma Assembleia Constituinte. Confundir uma manifestação com um cerco é apenas - digamos - um desabafo reacionário do Presidente da República", sustentou o secretário-geral do PCP.
Para Jerónimo de Sousa, o discurso do chefe de Estado evidenciou também uma visão "restrita da democracia, quando fala em alternância e consenso".
"Ora, a democracia também é alternativa e o Presidente da República, ao excluir essa possibilidade, demonstra obviamente uma visão curta em relação ao seu entendimento do que é a democracia", apontou o secretário-geral do PCP.
Jerónimo de Sousa reiterou então que o PCP está indisponível "para continuar a atual política" e defendeu "uma rutura face a este caminho para o desastre".
"A construção de uma verdadeira alternativa tem de ser feita com uma política diferente, com uma política patriótica, que conte com a intervenção e opinião de quem resiste e quer um caminho novo. Não é a alternância para que mude o poder mas prossiga a mesma política. Com isso, o PCP está em profundo desacordo", frisou.