JD Vance recebido no Vaticano após críticas do Papa a política migratória dos EUA
19 de abr. de 2025, 12:27
— Lusa
Católico devoto, JD Vance chegou ao Palácio Apostólico com a sua delegação pouco antes das 09:00 em Lisboa (08:00 GMT) para conversações com o Cardeal italiano Pietro Parolin e com o Arcebispo Paul Richard Gallagher, Secretário para as Relações com os Estados.Depois do encontro, o Vaticano emitiu uma declaração na qual reafirmou as boas relações entre ambos os Estados e expressou satisfação com o comprometimento da administração Trump em proteger a liberdade de religião e consciência.A Santa Sé manifestou preocupação com a repressão do Governo dos EUA aos migrantes e os cortes na ajuda internacional, ao mesmo tempo em que insistiu em soluções pacíficas para as guerras na Ucrânia e em Gaza.“Houve uma troca de opiniões sobre a situação internacional, especialmente em relação aos países afetados por guerras, tensões políticas e situações humanitárias difíceis, com atenção especial aos migrantes, refugiados e prisioneiros”, referiu o Vaticano, num comunicado.“Finalmente, manifestou-se a esperança de uma colaboração serena entre o Estado e a Igreja Católica nos Estados Unidos, cujo valioso serviço às pessoas mais vulneráveis foi reconhecido”, acrescentou.A referência a uma “colaboração serena” parece aludir à acusação de Vance de que a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA estava a transferir de local “imigrantes ilegais” para obter financiamento federal, o que os principais cardeais dos EUA negaram com veemência."Está claro que a abordagem do atual Governo dos EUA é muito diferente daquela a que estamos acostumados e, especialmente no Ocidente, daquilo em que confiamos há muitos anos", disse Parolin ao jornal La Repubblica na véspera da visita de Vance.Enquanto os EUA pressionam para o fim da guerra na Ucrânia, Parolin reafirmou o direito de Kiev à sua integridade territorial e insistiu que qualquer acordo de paz não deve ser "imposto" à Ucrânia, mas "construído pacientemente, dia após dia, com diálogo e respeito mútuo".Vance, que se converteu ao catolicismo aos 35 anos, esperava também encontrar-se com o Papa Francisco, que está a recuperar de uma grave pneumonia e que deverá participar na missa de Páscoa no domingo, mas não houve nenhuma indicação de um encontro entre ambos.Profundas clivagens ideológicas separam o papa, líder de 1,4 mil milhões de católicos, que defende uma igreja mais aberta e o acolhimento de migrantes, enquanto Vance quer transformar o seu país numa fortaleza de valores conservadores.Em fevereiro, Francisco provocou a ira da Casa Branca quando, numa carta aos bispos americanos, condenou as expulsões em massa de migrantes de Donald Trump, descrevendo-as como uma “grande crise”.“O que se constrói sobre o fundamento da força, e não sobre a verdade da igual dignidade de cada ser humano, começa mal e acabará mal”, advertiu.Em 2024, o pontífice fez uma rara incursão na campanha eleitoral americana, descrevendo as atitudes anti-migrantes como “loucura” e criticando figuras católicas norte-americanas de direita pelas suas posições demasiado conservadoras.Vance está próximo da franja conservadora da igreja norte-americana, que é muito crítica em relação ao Papa argentino pelas suas posições sobre os migrantes, os fiéis LGBT+ e certas questões de justiça social.Ao chegar a Roma na sexta-feira para o fim de semana de Páscoa, Vance encontrou-se com a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni.Em seguida, deslocou-se à Basílica de São Pedro, acompanhado da mulher e dos três filhos, para assistir à cerimónia da Paixão na Sexta-feira Santa, que comemora a morte de Cristo na Cruz, mas Francisco não esteve presente.No entanto, o Papa começou a receber visitas, incluindo o Rei Carlos III, e esta semana aventurou-se a sair do Vaticano para se encontrar com prisioneiros na prisão central de Roma, para cumprir um compromisso de Quinta-Feira Santa.O Papa nomeou outros cardeais para presidir às cerimónias pascais deste fim de semana, mas as autoridades não excluíram a possibilidade de uma breve saudação a Vance.