Investigadores revelam como coelhos domésticos sobrevivem em meio selvagem
21 de jun. de 2024, 18:29
— Lusa
No estudo, publicado na
revista Nature Ecology and Evolution, os investigadores sequenciaram o
genoma de quase 300 coelhos e descobriram que "o sucesso" para os
coelhos passarem de animais de estimação dóceis a invasores se prende
com a existência de uma componente genética selvagem. "Alguns
animais domésticos mudaram tanto desde os seus antepassados selvagens
que é difícil adivinhar um parentesco, como os chihuahuas que descendem
de lobos", indica, citado no comunicado, o investigador Pedro Andrade. Apesar
destas mudanças serem drásticas, há animais domésticos que conseguem
superar o desafio de regressar à natureza e sobreviver. "Quando
o fazem, chamamos-lhes ferais, populações de uma espécie outrora
doméstica que se readaptou com sucesso ao meio selvagem. Os coelhos são
um exemplo clássico", salienta. Para
perceber como é que os coelhos estabelecem populações ferais, os
investigadores sequenciaram o genoma de quase 300 coelhos, incluindo
seis populações ferais de três continentes (Europa, América do Sul e
Oceânica), bem como coelhos domésticos e selvagens no sudoeste da
Europa."Os coelhos domésticos são tão
comuns que a nossa expectativa era que estas populações ferais fossem
compostas por coelhos domésticos que se readaptaram ao meio selvagem,
mas as nossas descobertas apontam para um cenário mais complexo",
observa outro autor do estudo, Miguel Carneiro. Apesar
de analisadas seis colonizações independentes, todos os coelhos ferais
"partilham uma origem mista, doméstica e selvagem".Os
investigadores descobriram que nas readaptações ao meio selvagem as
variantes genéticas associadas à domesticação são muitas vezes
eliminadas "porque estas características acabam por ser deletérias no
meio selvagem tornando os animais mais vulneráveis à predação"."Nestas
populações não vemos coelhos totalmente brancos ou pretos, apesar
destas cores serem muito comuns nos coelhos domésticos, porque são cores
que saltam à vista aos predadores", afirma o professor da Universidade
de Uppsala, Leif Andersson, acrescentando que a mutação causa uma
diluição da cor do pelo. A eliminação de
características domésticas não se restringe à cor do pelo, tendo a
equipa encontrado evidências de seleção natural em genes ligados ao
comportamento e desenvolvimento do sistema nervoso. "A
docilidade é crucial para os animais domésticos viverem perto das
pessoas, mas não ajudará um coelho que volte ao meio selvagem a
sobreviver, por isso a seleção natural remove as variantes genéticas
ligadas a estes comportamentos", explica Pedro Andrade.No
comunicado, o investigador Miguel Carneiro acrescenta ainda que a
melhor estratégia para mitigar o impacto destas espécies "é impedir que
sejam introduzidas logo de início"."Por
isso esperamos que o nosso estudo forneça evidências importantes para
ajudar a avaliar e identificar futuros riscos de invasão” conclui.