Investigadores do IPO do Porto em projeto europeu que visa reduzir dor crónica
17 de jul. de 2024, 11:19
— Lusa/AO Online
Intitulado
de 'PAINLESS', o projeto visa implementar uma intervenção domiciliária
baseada na neuromodulação para reduzir a dor e melhorar a qualidade de
vida dos pacientes oncológicos.Estima-se
que 59% dos pacientes em tratamento oncológico, 64% dos pacientes com
doença oncológica avançada e 33% dos doentes curados sofram de dor
crónica.O projeto divide-se em três
vertentes, sendo que a primeira é liderada pelo IPO do Porto e consiste
em perceber os mecanismos com os quais o cérebro processa a dor.Até março de 2025, está prevista a avaliação e monitorização de 450 doentes, 140 dos quais do IPO do Porto. Em
declarações à agência Lusa, o professor e investigador Rui Medeiros
salientou que “cada doente tem diferentes sensibilidades à dor”, pelo
que o projeto permitirá uma “avaliação personalizada” desta condição. "A
dor é uma área onde não tem havido investigação muito avançada nos
doentes oncológicos”, observou, indicando que o objetivo é mudar esse
paradigma. Também à Lusa, a oncologista
Cláudia Vieira destacou a forma como a dor crónica condiciona o
dia-a-dia dos doentes oncológicos, repercutindo-se na perda de
sensibilidade das mãos e pés, e em perturbações de sono. “Queremos
sensibilizar o doente, mas também a sua família. É uma fase emotiva
para o doente e isto pode ser considerado mais uma sobrecarga, mas é
muito importante”, observou, esclarecendo que a primeira avaliação tem
de ser anterior ao primeiro tratamento oncológico. No
IPO do Porto foi montada uma “sala especializada” para a avaliação dos
doentes, que são expostos a estímulos térmicos (calor e frio) e táteis
(sensibilidade). Estes estímulos permitem, posteriormente, avaliar a resposta do sistema nervoso central e periférico de cada doente.“São
medidos determinados biomarcadores relacionados com essa resposta e
através de Inteligência Artificial é desenvolvido um modelo de
sensibilidade à dor. Cada doente terá o seu perfil, o que ajudará a uma
intervenção mais adequada”, esclareceu Rui Medeiros.Os
doentes são expostos três vezes a avaliação, antes e após os
tratamentos de quimioterapia, para também se compreender como é que a
terapêutica “influencia a sensibilidade”. "Queremos
encontrar formas de tratamento mais eficazes", esclareceu Cláudia
Vieira, notando que esta condição é atualmente tratada com fármacos, a
maioria dos quais autorizados para doenças como a depressão e epilepsia."A
dor oncológica existe e tem particularidades especiais. A nossa
tentativa é ter uma intervenção personalizada, adequando a cada doente o
melhor que podemos oferecer", acrescentou Rui Medeiros. Depois
de consolidados os dados da avaliação e monitorização dos doentes, os
investigadores vão explorar se esses mecanismos com os quais o cérebro
processa a dor são comuns em indivíduos saudáveis e doentes com cancro. Posteriormente,
vão avaliar a viabilidade e eficácia da entrega domiciliária de
estimulação elétrica transcraniana de baixa intensidade para cuidados
paliativos de pacientes com cancro que sofrem de dor.Financiado
em cerca de 2,5 milhões de euros pela Comissão Europeia, o projeto
envolve 17 parceiros de 10 países (Portugal, Espanha, Alemanha,
Dinamarca, Roménia, Israel, Suíça, Bélgica, França e Chéquia) e decorre
até 2027.