Investigadores descobrem proteína associada ao envelhecimento vascular
17 de ago. de 2020, 11:19
— Lusa/AO Online
Os resultados da investigação, iniciada em
2012, que são hoje publicados na revista científica Nature
Communications, podem “contribuir para o desenvolvimento de novos
medicamentos para combater doenças associadas ao envelhecimento
prematuro e ao envelhecimento fisiológico”, afirma a UC, numa nota
enviada hoje à agência Lusa.No projeto,
coordenado pelo cientista Lino Ferreira, da Faculdade de Medicina e do
Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC, “foram usadas
células de indivíduos com síndrome Hutchinson-Gilford ou progeria, uma
doença muito rara, caracterizada pelo envelhecimento precoce e morte
prematura” (normalmente por doenças cardiovasculares, por volta dos 14
anos).A doença “é provocada por uma
mutação genética rara, no gene LMNA, que resulta na acumulação de uma
proteína anormal no interior das células, denominada progerina”, explica
Patrícia Pitrez, primeira autora do artigo científico agora publicado.Esta proteína é também observada no envelhecimento normal, ainda que em menor escala.O
estudo incidiu nas células do músculo liso (células que se encontram
nos vasos sanguíneos), que são as “mais afetadas na progeria, existindo
uma diminuição do seu número nas artérias envelhecidas”, adianta, citada
pela UC, Patrícia Pitrez.“Mas a razão
para esta perda não era ainda conhecida”, sublinha a investigadora do
CNC. “Recolhemos células da pele (fibroblastos) de indivíduos com e sem
progeria, reprogramámos em células estaminais e depois diferenciámos em
células do músculo liso”, indica.E foi
justamente no processo de análise das diferenças entre as células
saudáveis e de progeria que os investigadores descobriram “uma enzima, a
metaloproteinase 13 (MMP13), cuja concentração está cerca de 30 vezes
aumentada nas células de músculo liso de progeria em comparação com as
saudáveis”, salienta, citada pela UC, Patrícia Pitrez.Na
tentativa de inibir a ação desta enzima, os especialistas testaram
ainda um fármaco, tendo conseguido desenvolver uma terapia específica
para contrariar a diminuição do número de células nas artérias que
ocorre com o envelhecimento vascular.Face
aos resultados obtidos, os autores do estudo acreditam que “a
administração do fármaco em estágios iniciais da doença, combinado com
outros fármacos já testados e que reduzam a quantidade de progerina,
pode ser de valor acrescentado para melhorar a qualidade e esperança
média de vida destes indivíduos”, refere a UC.Por
outro lado, concluem, o ‘microchip’ desenvolvido no âmbito desta
investigação “abre, também, novas perspetivas para o desenvolvimento de
outros tratamentos, não só para indivíduos com progeria, mas também para
o envelhecimento vascular fisiológico”.O
projeto foi cofinanciado por fundos europeus, designadamente no âmbito
do COMPETE (programa operacional Competitividade e Internacionalização),
e portugueses, através da FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia).Além
da UC, participaram na investigação cientistas do Instituto de Medicina
Molecular (Universidade de Lisboa) e de universidades e centros de
investigação da Alemanha, de Espanha, de França e do Reino Unido.