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Investigadores açorianos identificam 10 novas espécies de caracóis
A equipa de investigadores da Universidade dos Açores,  liderada por António Frias Martins,  prepara-se para dar a conhecer 10 novas espécies endémicas de caracóis terrestres.

Autor: Carmo Rodeia

Além da sua descrição, o projecto de investigação envolve uma análise detalhada à evolução e relacionamento destes seres vivos espalhados pelas diferentes ilhas que, com idades diferentes, irão mostrar patamares diferenciados no estado evolutivo destes seres.
“São um grupo muito promissor”, garante o investigador Frias Martins, que está a elaborar a descrição científica destas novas espécies.
Actualmente,  das 45 espécies de moluscos terrestres já identificadas e descritas cientificamente metade é oriunda dos Açores.
A equipa, que trabalha no terreno há já algum tempo, identificou 20 novas espécies endémicas mas para já a promessa de divulgação cientifica é só de 10 novos tipos, garante o investigador.
A divulgação científica desta descoberta açoriana ocorrerá “ainda este ano”, coincidindo com  duas datas importantes para a ciência: os 200 anos do nascimento do naturalista Charles Darwin e a publicação da sua obra “A origem das espécies”,  há 150 anos. Um livro que transmitiu à humanidade uma teoria consistente sobre a forma como a evolução pode ocorrer apenas através das forças naturais, no qual a selecção natural é o mecanismo principal.
“Os caracóis são os nossos tentilhões”, refere Frias Martins numa clara alusão ao trabalho desenvolvido por Darwin nas Galápagos, que originou a construção da teoria evolucionista.
As comemorações destas efemérides ocorrem um pouco por todo o mundo. Portugal, e os Açores em particular, não vão ficar de fora.
Depois de amanhã arranca a exposição com o título “A evolução de Darwin”, na Fundação Calouste Gulbenkian, seguida de um ciclo de conferências.
Nos Açores, os eventos que homenagearão Darwin acontecerão em Setembro e são promovidos pela Universidade dos Açores e Museu Carlos Machado.
O evento da Universidade dos Açores, promovido pelo pólo açoriano do Centro de Investigação em Biologia e Recursos Genéticos (CIBIO) , tem lugar em Ponta Delgada  entre 19 e 22 de Setembro,  precisamente a data em que Darwin aportou à ilha Terceira.
Fatigado por quase cinco anos de viagem à volta do mundo, no HMS Beagle, Darwin passou seis dias nos Açores, em 1836, nada encontrando “que merecesse ser visto ou registado”.
A omissão de Darwin foi aproveitada pelos cientistas da Universidade dos Açores para inspirar a realização de um colóquio que trará ao arquipélago alguns dos mais proeminentes seguidores das teses darwinistas, como o casal Grant e Bruce Lieberman.
E o título não poderia ser mais sugestivo: “O erro de Darwin e o que estamos a fazer para o corrigir”.
Em declarações ao AO online, Frias Martins garante que não se trata de uma “reprimenda ao cientista” mas sim um momento para “o homenagear”, pois “aquilo que vamos fazer é confirmar a partir dos Açores as suas teses”.
A investigação em torno da origem e da vida dos moluscos terrestres, por exemplo, “é o nosso contributo para a ciência”.
A frase que Darwin escreveu no seu diário acerca dos Açores “só pode ter sido motivada pelo seu cansaço”. Os Açores constituem um laboratório vivo e “nós vamos mostrá-lo, e sobretudo mostrar o que estamos a fazer para o seu estudo”, adianta Frias Martins.
Aliás, já em 1881 o açoriano Francisco Arruda Furtado se correspondeu com Darwin, procurando algumas orientações para o seu trabalho de investigação nas ilhas. Foi aliás Arruda Furtado quem assinou os obituários de Darwin, em 1882 no Século e na Voz do Operário, apelidando-o de “O Newton da biologia”.
“Se Darwin cá viesse estou certo de que Arruda Furtado e eu próprio lhe diríamos da importância dos caracóis”, refere Frias Martins, aludindo ao regozijo que Darwin teria com mais este indício de especiação em ambiente insular.
De acordo com a última edição da National Geographic, os Açores possuem, também,  a mais recente espécie identificada em Portugal - o Painho de Monteiro - residente na Graciosa, descoberta por Luís Monteiro.

Darwin e o seu “erro” açoriano

Darwin “invadido por cansaço” pode ter ignorado a biodiversidade dos Açores aquando da sua passagem pela Ilha Terceira, em 1836, mas os cientistas actuais que mais trabalham nesta área querem “repor a verdade” e chamar a atenção do mundo para a ciência que se faz no arquipélago. Sobretudo na área da biologia.
O colóquio “O erro de Darwin e o que estamos a fazer para o corrigir” vai reunir durante quatro dias especialistas nacionais e internacionais.
Como nós éramos, a dinâmica da colonização,  da evolução e da conservação, são os quatros eixos do colóquio que “exporá os Açores do ponto de vista evolutivo”, comemorando Darwin e mostrando a todos “que também aqui temos uma palavra a dizer”, adianta Frias Martins, investigador e coordenador do pólo açoriano  do  CIBIO.
Darwin foi um dos três grandes teóricos do século XIX, a par de Freud (psicanálise) e de Marx (teoria política).
Darwin defendeu que, tão importante como a selecção natural está o conceito de árvore da vida, uma árvore evolutiva que explica as relações entre as espécies. Segundo ele, os milhões de espécies que habitam a Terra descendem de um antigo Ancestral Universal Comum. Dele desponta um tronco que se divide e vai criando ramificações. Cada ramo representa uma espécie; quando ele se bifurca surgem novas espécies. Dentro das espécies apenas sobrevivem os que revelam capacidade de adaptação ao meio e se relacionam entre si.