Investigadoras da ONU revelam provas de envolvimento do Governo russo
Navalny
1 de mar. de 2021, 15:26
— Lusa/AO Online
As
duas investigadoras que, durante quatro meses, analisaram o caso
ocorrido em agosto do ano passado, indicaram que o veneno usado contra
Navalny, o Novichok, é uma dessas provas.“O
conhecimento necessário para manusear e desenvolver novas formas de
Novichok, como o encontrado nas amostras retiradas de Navalny, só pode
ser encontrado em organizações estatais”, observam as relatoras, numa
carta oficial enviada às autoridades russas em dezembro e cujos
pormenores foram hoje divulgados, expirado que foi o período de dois
meses da cláusula de confidencialidade.Ages
Callamard e Irene Khan também apelaram a uma investigação internacional
sobre a tentativa de envenenamento do líder da oposição na Rússia."Dada
a resposta inadequada das autoridades nacionais, o uso de armas
químicas e o aparente padrão repetido de assassínios seletivos,
acreditamos que uma investigação internacional deve ser realizada com
urgência”, pedem as investigadoras, lembrando que os resultados deste
processo podem ser particularmente úteis a Navalny, que se encontra a
cumprir uma pena de prisão.Callamard e
Khan lamentaram a este respeito que “em contraste com a falta de
iniciativa do Governo (russo) para investigar o envenenamento, as
autoridades tenham agido com firmeza para garantir que Navalny fosse
preso imediatamente após o seu regresso à Rússia, depois passar vários
meses na Alemanha com o único objetivo de recuperar a sua saúde”.Outra
prova de que o Estado russo deve ter estado envolvido no ataque a
Navalny é o facto de que este se encontrava sob vigilância das
autoridades quando foi envenenado, “pelo que é improvável que terceiros
tenham administrado o químico proibido sem conhecimento das forças de
vigilância”.Mesmo no "caso improvável" de o
ataque não ter sido obra das autoridades, Callamard e Khan garantiram
que o regime de Vladimir Putin "teria falhado na sua obrigação de
proteger Navalny”, que já tinha sido ameaçado em ocasiões anteriores e
sujeito a pelo menos duas outras tentativas de envenenamento.O
Governo russo "não pode escapar de suas obrigações de direitos humanos,
negando a sua responsabilidade no caso", concluem as duas
investigadoras, reiterando o seu pedido para que Navalny seja libertado.Por
outro lado, as relatores consideram que o envenenamento do advogado e
ativista “foi feito deliberadamente para enviar um aviso sinistro e
claro a quem critica e se opõe ao Governo, dizendo-lhes que este é o
destino que os espera”.O uso do Novichok
viola a convenção internacional sobre o uso de armas químicas,
acrescentaram as especialistas da ONU, que também consideram o ataque
contrário às leis de direitos humanos contra execuções arbitrárias e
tortura ou tratamento desumano de detidos.O
envenenamento de Navalny, concluem as investigadoras, “responde a uma
tendência, observada há décadas, de assassínios ou tentativas de
assassínio contra cidadãos russos e críticos do Governo, dentro ou fora
do país", um comportamento que, na sua opinião, "exige uma resposta da
comunidade internacional”.