Investigador do Porto quer tornar aviões mais leves e sustentáveis com novos materiais
11 de abr. de 2024, 18:51
— Lusa
Pedro Camanho, que também é
professor da Faculdade de Engenharia da Universidade de Porto, foi um
dos três investigadores portugueses distinguidos hoje pelo Conselho
Europeu de Investigação (ERC - European Research Council, sigla em
inglês), no âmbito do programa Advanced Grants 2023. Durante
cinco anos, o investigador vai dedicar-se ao estudo de uma nova geração
de materiais compósitos não convencionais para reduzir o peso e
melhorar a eficiência dos aviões e lançadores, diminuindo a sua pegada
ambiental. “Este projeto está relacionado
com a necessidade de descarbonizar a indústria aeronáutica porque
prevê-se que, com o aumento do número de voos nos próximos anos em 2050,
as emissões de dióxido de carbono atinjam um valor de cerca de 2.000
milhões de toneladas, o que não é sustentável”, disse Pedro Camanho em
declarações hoje à Lusa, depois da divulgação da atribuição da bolsa.Portanto,
acrescentou, “o objetivo que foi definido pelas empresas do setor
aeroespacial e pelos governos foi descarbonizar, precisamente em 2050, a
indústria aeronáutica”. O investigador
ressalvou que, para isso, é preciso desenvolver uma nova geração de
materiais mais leves usados nas estruturas aeroespaciais, porque ao
diminuir o peso das aeronaves está-se, imediatamente, a reduzir as
emissões. Com o desenvolvimento destes
novos materiais será ainda possível desenhar as estruturas dos aviões de
forma diferente, nomeadamente criar asas muito maiores ou potenciar a
sua eletrificação, exemplificou. Contudo,
Pedro Camanho esclareceu que há estruturas em que faz sentido
manterem-se os mesmos componentes, dizendo, por exemplo, que o trem de
aterragem dos aviões deve continuar a ser feito de materiais metálicos.“O
objetivo, até diria principal, é diminuir o peso dos aviões e dos
lançadores porque depois o conhecimento pode ser transferido para outras
áreas relevantes, nomeadamente para a indústria automóvel e para a
ferrovia”, sublinhou. Outro dos propósitos
passa por conseguir desenvolver o material “muito mais rapidamente” do
que aquilo que a indústria faz hoje, e, para isso, o seu desenvolvimento
vai estar suportado numa plataforma computacional em que vai ser feita a
modelação desde a micro escala até ao nível estrutural, ressalvou. A
vantagem é que vai ser possível representar e desenvolver os materiais e
as estruturas num computador antes de avançar para a sua fabricação,
destacou. “Portanto, fazemos aquilo a que eu chamo de desenvolvimento e certificação virtual”, salientou. Em
termos globais, Pedro Camanho entendeu que a utilização destes
materiais é uma solução mais económica porque vai permitir uma
diminuição do combustível e dos custos de desenvolvimento das
estruturas. Pedro Camanho é o único
investigador em Portugal a receber a bolsa, segundo a lista hoje
divulgada pelo ERC, que inclui 255 investigadores na Europa que irão
receber ‘Advanced Grants’ 2023, bolsas para investigadores seniores, com
um historial comprovado de realizações significativas, segundo
informação da instituição, num total de quase 652 milhões de euros.Em
comunicado, a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) referiu que os
outros dois investigadores portugueses que receberam hoje estas
‘Advanced Grants’ e que trabalham em instituições fora de Portugal são
Nuno Maulide, da Universidade de Viena, que recebeu a bolsa com o
projeto C-HANCE - “CarbonHydrogen bond activation via a new charge
control approach”, e Paula Mendes, da Universidade de Birmingham, com o
projeto GLYCANREAD - “New frontiers in glycan recognition and
detection”.