Investigação "Luxúria" sobre abusos sexuais na igreja questiona reais intenções do papa
12 de out. de 2017, 15:29
— Lusa/AO online
“O motivo
porque escrevo este livro é porque tenciono medir a distância entre as
palavras, as promessas, e os factos. O que o poder religioso, político e
económico diz e o que realmente faz", explicou o jornalista em
entrevista à agência Lusa.Foi nesta tentativa de apurar medidas
anunciadas pelo papa Francisco, como moralizar as finanças do Vaticano e
combater a pedofilia e os abusos do clero, que Emiliano Fittipaldi
avançou para o seu primeiro livro “Avareza” e agora para o “Luxúria”,
dois dos sete pecados capitais.“Depois de ter visto que o papa
prometia mudar toda a igreja do ponto de vista financeiro, fiz o
“Avareza” e demonstrei que a igreja pobre para os pobres como Francisco
afirmava ainda estava longe da realidade. A igreja é rica para os
ricos”, frisou.Em “Avareza”, o jornalista reuniu provas
documentais internas do Vaticano, que garante nunca terem sido
desmentidas, que lançam um retrato perverso do império financeiro da
Igreja: os luxos que se concedem aos cardeais, as fraudes fiscais, os
avultados investimentos imobiliários por todo o mundo e os gastos
exorbitantes da Cúria. Após a publicação deste livro, Emiliano
Fittipaldi foi processado mas absolvido pelo tribunal de primeira
instância do Estado do Vaticano por defeito jurisdicional, já que,
segundo os juízes, “os factos evidenciados no processo (a publicação dos
documentos secretos) foram cometidos fora do âmbito do Vaticano”.Já
no que se refere ao novo livro “Luxúria”, Emiliano explica que a ideia
surgiu quando o papa Francisco disse que lutaria contra a pedofilia sem
piedade para com os padres pedófilos.Numa investigação que o
levou da Austrália ao México, da Espanha ao Chile e Italiana, o
jornalista revela nesta sua nova obra, documentos sobre elementos do
Vaticano que violam o sexto mandamento: “Não cometerás atos impuros”.“Fui
investigar se o que dizia era real na prática. Descobri que nada mudou.
Que não há transparência, que a Congregação da Doutrina da Fé esconde
os casos, que os pedidos da ONU sobre os processos não têm resposta e
que a comissão contra a pedofilia criada pelo papa não serve para nada,
tendo-se reunido apenas cinco ou seis vezes em cinco anos”, disse.Na
verdade, explica, “Francisco promoveu um conjunto de cardeais que num
passado ocultaram, de uma forma séria, os casos de abusos”, como é o
caso do cardeal australiano George Pell, o braço direito do papa para as
questões financeiras, que atualmente enfrenta um processo na Austrália.“Se
eu conhecia alguns destes casos ele também os devia conhecer. Então
porque promoveu estas pessoas? Porque a luta contra a pedofilia não é
uma prioridade do papa Francisco? Porque se fosse comportar-se-ia de
outra forma“, defende.A investigação que agora apresenta em
livro, adianta o jornalista, tem dados que permitem uma avaliação ética a
uma série de comportamentos dos princípios da Igreja preconizados pelo
cardeal Pell, mas também por outros, tentando esconder os atos dos
padres pedófilos.O cardeal australiano foi formalmente acusado a 29 de junho.Não
é a primeira vez que o agora cardeal é acusado de abusos sexuais, já
que em 2002, quando era arcebispo de Sydney, um homem disse ter sido
abusado sexualmente por ele em 1961, quando tinha 12 anos. As
investigações ilibaram o sacerdote.George Pell foi nomeado
cardeal pelo papa João Paulo II em 2003 e há três anos foi escolhido
pelo papa Francisco para a secretaria de Economia da Santa Sé, um posto
criado pelo líder católico para enfrentar os escândalos em torno das
finanças do Vaticano.O cardeal é apenas um dos casos referidos no
livro “Luxúria”, mas para o jornalista italiano “personifica a
hipocrisia do Vaticano ao transformar um homem indigno do ponto de vista
moral no braço direito do papa”.