Instrumento que deteta planetas capazes de ter vida utilizado pela primeira vez
6 de dez. de 2017, 11:39
— Lusa/AO online
Depois
dessa primeira observação - designada em astronomia como "primeira luz"
- o instrumento iniciou uma série de testes, ainda em curso, através
dos quais tem demonstrado "resultados muito promissores, apesar de ainda
haver alguns ajustes a fazer", disse à Lusa Nuno Cardoso Santos,
investigador do IA e da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.A
"primeira luz" do ESPRESSO, que está instalado num conjunto de quatro
telescópios (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), ocorreu na noite
de 27 para 28 de novembro, perto da meia-noite, tendo os testes
iniciado de seguida.Esta
fase de testes termina na quinta-feira, estando planeados mais quatro
períodos, de aproximadamente dez dias cada um, em finais de janeiro,
finais de fevereiro, e, provavelmente, em maio, avançou o investigador.Instrumento
capaz de decompor a luz nas suas várias cores, ou comprimentos de onda,
originando um espetro, considerado o "arco-íris da estrela", o
espetrógrafo ESPRESSO tem por objetivo procurar e detetar planetas
parecidos com a Terra, capazes de suportar vida, assim como testar a
estabilidade das constantes fundamentais do Universo, indicou o
investigador.Para
tal, utiliza o método das velocidades radiais, que deteta exoplanetas
(planetas que estão fora do sistema solar), medindo pequenas variações
na velocidade (radial) da estrela, causadas pelo movimento que a órbita
desses planetas imprime na estrela.Através
deste método, o ESPRESSO é capaz de detetar variações nessas
velocidades de cerca de 0,3 quilómetros por hora, ou seja, a velocidade
de uma tartaruga a andar."Começa
agora uma nova fase, em que vamos testar em detalhe o instrumento e
otimizá-lo, para que, em meados de 2018, seja possível começar a fase de
exploração científica", afirmou Nuno Cardoso Santos. Segundo
o investigador, as mais de 270 noites que foram atribuídas à equipa
para usar o ESPRESSO no VLT vão permitir liderar "um grande número de
novas descobertas" nas áreas científicas em que o consórcio está mais
envolvido, com um foco muito especial no estudo de outros planetas e da
variabilidade das constantes fundamentais da física.A
equipa portuguesa, liderada pelo IA, é responsável pela construção de
uma das componentes do instrumento ESPRESSO, a ‘coudé train', composta
por nove elementos óticos, que levam a luz desde o telescópio até ao
espetrógrafo, "com o mínimo de aberração ou de perdas", ao longo de um
trajeto com cerca de 60 metros, acrescenta o comunicado.Para
Alexandre Cabral, investigador do IA e da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa, este momento é o culminar de quase dez anos de
planeamento, desenho, construção e teste de um instrumento, para o qual
Portugal contribui com uma parte fundamental - o sistema ótico ‘coudé
train'.O
sistema ótico ‘coudé train' vai permitir ao espetrógrafo observar com os
quatro telescópios ao mesmo tempo, "algo nunca antes realizado", o que é
equivalente a ter um telescópio ótico com uma abertura de 16 metros de
diâmetro, ou seja, "o maior do mundo", salientou.O
ESPRESSO é o sucessor de um dos "mais bem-sucedidos instrumentos
caçadores de planetas até hoje", o HARPS (um espetrógrafo de alta
resolução), que deteta variações de velocidade a rondar os 3,5
quilómetros por hora (ou aproximadamente a velocidade de uma pessoa a
caminhar), lê-se ainda na nota informativa.O
consórcio responsável pelo desenvolvimento e construção do ESPRESSO é
constituído por instituições académicas e científicas de Portugal,
Itália, Suíça e Espanha, bem como membros do ESO. Da
equipa portuguesa fizeram ainda parte as universidades do Porto e de
Lisboa e as empresas portuguesas Ernesto São Simão, Tecnogial, Zeugma,
Tecnisata e HPS.A participação nacional foi financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).