Instrução arranca dois anos após a acusação do Ministério Público
Operação Lex
20 de set. de 2022, 08:55
— Lusa/AO Online
Entre
os acusados encontram-se três antigos desembargadores - Rui Rangel
(expulso pelo Conselho Superior da Magistratura), Fátima Galante
(ex-mulher de Rangel e aposentada compulsivamente pelo órgão de gestão e
disciplina dos juízes) e Luís Vaz das Neves (ex-presidente da Relação
de Lisboa, entretanto jubilado) -, bem como o ex-presidente do Benfica,
Luís Filipe Vieira, o vice-presidente ‘encarnado’ Fernando Tavares e o
empresário José Veiga.São ainda acusados
Ruy Moura, Jorge Rodrigues Barroso, José Bernardo Martins, Bernardo
André Proença Santos Martins, Nuno Miguel Proença da Costa Ferreira,
Albertino Figueira, Rita Figueira Filipe, Bruna Amaral, Octávio Correia,
Elsa Correia e Oscar Juan Hernandez Lopez.Em
causa no processo estão os crimes de corrupção passiva e ativa para ato
ilícito, recebimento indevido de vantagem, abuso de poder, usurpação de
funções, falsificação de documento, fraude fiscal e branqueamento,
segundo divulgou a Procuradoria-Geral da República (PGR) num comunicado
em 18 de setembro de 2020.As primeiras
quatro testemunhas começam a ser ouvidas pelo juiz conselheiro Sénio
Alves na quarta-feira, a partir das 14:30, arroladas pelo arguido
Fernando Tavares. Para o dia seguinte, pelas 14:00, estão reservadas as
declarações de duas testemunhas arroladas pelo arguido Jorge Rodrigues
Barroso, advogado ligado ao antigo presidente do Benfica.Luís
Filipe Vieira, Fernando Tavares, Jorge Rodrigues Barroso, o funcionário
judicial Octávio Correia e a sua mulher, Elsa Correia, estão entre os
arguidos que viram os seus requerimentos de abertura de instrução serem
aceites. Em sentido inverso, o STJ recusou os pedidos de abertura de
instrução apresentados por Albertino Figueira e Rita Figueira Filipe.A
instrução deste caso que abalou a imagem da magistratura judicial foi
retardada por uma primeira decisão do STJ, de 12 julho de 2021, que
determinou então a separação da Operação Lex. Segundo essa decisão, Luís
Vaz das Neves devia ser julgado naquela instância, pois continuava a
ser juiz desembargador e apenas tinha sido suspenso (ao contrário de Rui
Rangel e Fátima Galante), enquanto os restantes arguidos deviam ser
julgados na primeira instância.Contudo, em
24 de fevereiro deste ano, o mesmo STJ, num acórdão assinado pelos
juízes conselheiros Cid Geraldo e António Gama, deu razão aos recursos
do MP e dos arguidos Octávio Correia e Elsa Correia no sentido de a
instrução e o eventual julgamento decorrerem unicamente na instância
superior, sem lugar a separação de processos.O
MP junto do STJ acusou Luís Vaz das Neves de corrupção passiva para ato
ilícito e abuso de poder. Segundo a acusação, Vaz das Neves violou os
seus deveres funcionais de isenção e imparcialidade com a ordenação da
distribuição manual de processos, permitindo que Rui Rangel obtivesse
benefícios económicos ilegítimos.Por sua
vez, Rangel responde pelos crimes de corrupção passiva para ato ilícito,
abuso de poder, recebimento indevido de vantagem, usurpação de funções,
fraude fiscal e falsificação de documento.Já
Fátima Galante foi acusada de corrupção passiva para ato ilícito em
coautoria com o ex-marido e de abuso de poder também com Rui Rangel e
Bruna Garcia do Amaral, ex-namorada de Rangel, e de seis crimes de
fraude fiscal juntamente com o juiz, José Santos Martins e ainda de
branqueamento de capitais com os dois implicados e mais o filho do
advogado (Bernardo Santos Martins).Quanto a
Luís Filipe Vieira, a acusação imputa-lhe a prática um crime de
recebimento indevido de vantagem em coautoria com Fernando Tavares e o
advogado Jorge Rodrigues Barroso.A
investigação da Operação Lex, que foi efetuada pela procuradora-geral
adjunta junto do STJ Maria José Morgado (agora jubilada), centrou-se na
atividade desenvolvida por Rui Rangel, Fátima Galante e Luis Vaz das
Neves – que, segundo a acusação, utilizaram as suas funções na Relação
de Lisboa para obterem vantagens indevidas, para si ou terceiros, que
dissimularam.Segundo uma nota da PGR, para
que fosse garantido o pagamento das vantagens obtidas pelos acusados,
num montante superior a 1,5 milhões de euros, foi requerido na altura o
arresto de património.Enquanto decorria a
investigação, o Conselho Superior da Magistratura decidiu expulsar Rui
Rangel da magistratura e colocar Fátima Galante em aposentação
compulsiva. Já Luís Vaz das Neves jubilou-se em 2016 e foi substituído
na presidência do Tribunal da Relação de Lisboa por Orlando Nascimento,
que também já abandonou o cargo.O processo
da Operação Lex foi conhecido a 30 de janeiro de 2018, quando foram
detidas cinco pessoas e realizadas mais de 30 buscas e teve origem numa
certidão extraída do caso Operação Rota do Atlântico, que envolveu o
empresário de futebol José Veiga, suspeito de crimes de corrupção no
comércio internacional, branqueamento de capitais, fraude fiscal e
tráfico de influências.