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Instituto de Investigação em Vulcanologia dos Açores analisa emissão de gases na ilha Terceira

O Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos (IVAR) da Universidade dos Açores esteve hoje na ilha Terceira a recolher amostras de gases para perceber se houve alguma alteração no padrão normal.


Autor: AO Online/Lusa

“Independentemente de estarmos em V3 ou em V0, estes dados são sempre importantes. São dados que nos permitem definir o padrão de normalidade para o sistema vulcânico, neste caso o Pico Alto. É ele que nos diz se, no momento atual, o sistema está estável ou não”, explicou aos jornalistas a vulcanóloga Catarina Silva.

A recolha de amostras ocorre numa altura em que o vulcão de Santa Bárbara está em nível de alerta vulcânico V3, que significa “sistema vulcânico em fase de reativação”.

Desde junho de 2022 que a atividade sísmica no vulcão de Santa Bárbara se encontra “acima dos valores normais de referência”, tendo o evento mais energético ocorrido em 14 de janeiro de 2024, com magnitude de 4,5 na escala de Richter.

O nível de alerta vulcânico esteve em V3 entre junho e dezembro de 2024, mas desde então mantinha-se em V2, que significa "sistema vulcânico em fase de instabilidade".

Na semana passada, voltou a subir para V3, "face ao incremento da atividade sísmica", com uma “tendência crescente relativamente ao observado nos primeiros meses deste ano” e ao facto de, "embora pouco intensa", se continuar a registar "deformação crustal na área onde se desenvolve a crise sismovulcânica”.

A emissão de gases é um dos indicadores avaliados pelo IVAR e pelo Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA), que acompanham diariamente a evolução do vulcão de Santa Bárbara.

A recolha de amostras já estava, no entanto, agendada antes de o Gabinete de Crise do CIVISA/IVAR ter decidido elevar o nível de alerta de V2 para V3, na passada quinta-feira.

“É um trabalho que fazemos de rotina. A cada três meses vimos cá e fazemos amostragem das fumarolas”, explicou a investigadora do IVAR.

Entre períodos de chuva e algumas abertas, Catarina Silva e a colega Lucía Moreno desceram os passadiços das Furnas do Enxofre para recolher amostras de emissões de gases, enquanto vários turistas percorriam o trilho e tiravam fotografias numa das principais atrações paisagísticas da ilha.

“Usamos ampolas de vidro e aprisionamos as emissões que estão a ser libertadas pelas fumarolas, essencialmente vapor de água, dióxido de carbono, sulfureto de hidrogénio”, explicou Catarina Silva.

As amostras ainda terão de ser analisadas no laboratório do IVAR na ilha São Miguel e os resultados, que deverão demorar um a dois dias, serão depois comparados com os valores de referência.

“Até ao momento nunca detetámos anomalias em nenhuma das amostragens que fizemos aqui nas Furnas do Enxofre”, referiu a investigadora.

Ainda que desta vez os dados indiquem alguma anomalia, terão de ser cruzados com outros indicadores antes que seja decidida alguma alteração no nível de alerta do vulcão de Santa Bárbara, explicou o coordenador do gabinete de crise do CIVISA/IVAR, João Luís Gaspar.

“Depende do tipo de valores e de quais os gases que estamos a medir. As próprias condições meteorológicas muitas vezes influenciam a forma como os gases se libertam. Há que estudar todo esse contexto em que a amostragem é realizada e as análises são efetuadas para se poderem tirar conclusões”, disse.

O gabinete de crise do CIVISA/IVAR avalia o nível de alerta dos diferentes sistemas vulcânicos dos Açores mensalmente, mas o acompanhamento dos diferentes parâmetros é diário.

As campanhas no terreno, como a de hoje, dão uma informação complementar, no entanto, desde o início da crise sismovulcânica na ilha Terceira, as estações permanentes não identificaram valores anormais ao nível dos gases.

“O CIVISA está a monitorizar em permanência os gases na ilha Terceira, como noutros pontos do arquipélago. Os dados que recebemos diariamente dos diferentes pontos de monitorização não apresentam qualquer anomalia”, frisou João Luís Gaspar.

Além da recolha de amostras de gases nas Furnas do Enxofre, o IVAR recolheu ainda amostras de água e amostras de gases nos solos, em vários pontos da ilha.

“Fazemos outro tipo de estudos relacionados com os gases que têm por objetivo medir a concentração e o fluxo de gás nos solos em vários pontos, porque existe nos vulcões uma desgaseificação difusa e, medindo a libertação de gases nos solos, podemos também detetar eventuais anomalias”, avançou o coordenador do gabinete de crise.

Segundo João Luís Gaspar, estas campanhas são feitas com maior periodicidade quando existem incrementos da atividade sísmica, “precisamente para verificar se há alterações”.

“Juntando as análises químicas dos gases e das águas aos dados que temos da sismologia e a da deformação crustal ficamos com um espetro de informação mais alargada que nos permite depois tirar ilações sobre o estado de atividade nos vulcões”, explicou.

O coordenador do gabinete de crise adiantou que a rede de estações de monitorização na ilha Terceira foi reforçada nos últimos anos e já é “bastante robusta”.

“Especificamente em torno do vulcão [de Santa Bárbara], temos instaladas várias estações sísmicas, estações de GNSS [sistema de navegação por satélite] e estações de gás permanente, quer de medição de fluxo, quer de concentração. Estamos a medir, por exemplo, dióxido de carbono e radão”, apontou.