Instituições denunciam violação dos direitos humanos das mulheres
Afeganistão
23 de set. de 2021, 11:58
— Lusa/AO Online
Segundo
a HRW e o Instituto de Direitos Humanos da SJSU, desde que assumiram o
controlo da cidade, a 12 de agosto de 2021, os talibãs em Herat estão a
negar às mulheres a liberdade de movimento fora das suas casas, a impor
códigos de vestuário obrigatórios, a restringir severamente o acesso ao
emprego e à educação e a restringir o direito à reunião pacífica.As
mulheres de Herat disseram às duas organizações que as suas vidas foram
completamente destruídas no dia em que os talibãs assumiram o controlo
da cidade. Estas mulheres trabalhavam fora
de casa ou eram estudantes e desempenhavam funções ativas e
frequentemente de liderança nas suas comunidades. As mulheres disseram que estão a enfrentar problemas económicos devido à perda de rendimento e à incapacidade de trabalhar. As
mulheres em Herat foram das primeiras a organizarem protestos em defesa
dos seus direitos depois de os talibãs assumirem o controlo de Cabul e
de grande parte do país.Poucos dias após a
tomada de Herat pelos talibãs, um grupo de mulheres pediu para se
reunir com os líderes locais dos talibãs para discutirem os seus
direitos e, vários dias depois, puderam encontrar-se com um
representante do grupo islâmico.No
entanto, o responsável talibã foi inflexível e disse às mulheres para
pararem de insistir na questão dos seus direitos e que, se apoiassem o
grupo no poder, seriam recompensadas com amnistia total pelas atividades
anteriores e talvez até conseguissem cargos no novo Governo.Após
as manifestações em Herat, os talibãs proibiram protestos que não
tinham aprovação prévia do Ministério da Justiça em Cabul, ordenando que
os organizadores incluíssem informações sobre o propósito de quaisquer
protestos e as frases a serem usadas em quaisquer solicitações ao
ministério.As mulheres entrevistadas pela
HRW e pela SJSU expressaram preocupação especial com o facto de os
talibãs imporem novamente a política de exigir que tenham como companhia
um ‘mahram’ [familiar masculino] sempre que saiam de casa, como os
talibãs fizeram quando estiveram no poder anteriormente, entre 1996 e
2001. Essa exigência afastou as mulheres
da vida pública, isolou-as da educação, do emprego e da vida social, e
dificultou a obtenção de cuidados de saúde, tornando-as completamente
dependentes de membros da família do sexo masculino e impedindo-as de
escapar caso sofressem abusos em casa.Zabiullah
Mujahid, porta-voz dos talibãs, disse numa entrevista em Cabul em 07 de
setembro que estar acompanhado por um ‘mahram’ só seria necessário para
viagens de mais de três dias, não para atividades diárias, como ir ao
trabalho, escola, compras, consultas médicas e outras necessidades. No entanto, as autoridades talibãs em Herat não têm sido consistentes na execução desta política.A
Human Rights Watch e o Instituto de Direitos Humanos SJSU conduziram
entrevistas detalhadas por telefone a partir de Dari com sete mulheres
em Herat, incluindo ativistas, educadoras e estudantes universitárias
sobre as suas experiências desde que os talibãs assumiram o controlo da
cidade. Todas as mulheres falaram sob condição de anonimato, temendo
pela sua segurança.Os talibãs voltaram ao poder em praticamente todo o Afeganistão em agosto, quando tomaram a capital, Cabul.