Inspeção confirma “ilegalidades” nos centros de interpretação ambiental dos Açores
8 de abr. de 2024, 17:41
— Lusa/AO Online
De acordo com o
documento, a que a Lusa teve hoje acesso, o contrato assinado pelos
trabalhadores dos centros de interpretação - antes afetos à empresa
pública Azorina (extinta a 31 de dezembro de 2021) - e atualmente em
vigor “apresenta algumas cláusulas ilegais”.Em
causa está, segundo a IARTCC, a cláusula relativa ao trabalho
concentrado, que os inspetores consideram ser “inválida” e mesmo
passível de ser anulada, tendo em conta que o período normal de trabalho
na administração regional (para onde transitaram estes trabalhadores,
após a extinção da Azorina) é de sete horas por dia e 35 horas por
semana.“Em várias situações, foi comum os
trabalhadores efetuarem trabalho rotativo de sete, oito, nove e até 10
dias consecutivos”, conclui o relatório, realizado em 2023 e que fala
também de funcionários a trabalhar por turnos, o que não se adequa à
regra existente na administração regional.É
referido o caso de 18 trabalhadores dos centros de interpretação
contratados para a prestação de serviço na modalidade de avença, e com
trabalho rotativo e horário fixo, em pelo menos 11 centros de
interpretação ambiental, bem como trabalhadores “colocados ao abrigo de
programas ocupacionais”.Ouvido sem sede de
contraditório, o secretário regional do Ambiente e Alterações
Climáticas, Alonso Miguel, com a tutela dos centros de interpretação,
indicou que os contratos de trabalho foram elaborados pela Secretaria
Regional das Finanças, relegando para o gabinete do secretário Duarte
Freitas eventuais responsabilidades sobre a matéria.“A
Secretaria Regional do Ambiente e Alterações Climáticas foi um mero
intermediário entre as partes, tendo apenas procedido à elaboração de
eventuais correções ou recolha da assinatura dos documentos, pelo que,
nesta matéria, e caso entendam que existe qualquer ilegalidade,
sugere-se que a Secretaria Regional das Finanças seja ouvida”, referiu
Alonso Miguel.O governante recordou que a
legislação em vigor permite alargar o horário de trabalho daqueles
funcionários, desde que haja acordo entre ambas as partes, mas os
inspetores que analisaram o caso consideram que este regime de horário
concentrado, criado como medida excecional, logo após a pandemia da
covid-19, não deve ser aplicado como regra.Nos Açores existem 18 centros de interpretação ambiental, distribuídos pelas nove ilhas.A
existência de eventuais ilegalidades nos contratos de trabalho nos
centros de interpretação dos Açores já tinha sido denunciada pelo Bloco
de Esquerda, em 2022. Num requerimento
entregue então no parlamento, os deputados bloquistas acusavam o Governo
Regional (PSD/CDS/PPM, no poder desde os finais de 2020) de não cumprir
a Lei de Trabalho e falavam da existência de funcionários a trabalhar
sem contratos assinados.