Inquérito revela iguais dificuldades na educação inclusiva em diferentes realidades
26 de jan. de 2025, 09:00
— Lusa
“Independentemente
de as realidades dos três países serem diferentes, e muito diferentes,
percebemos que as angústias, as necessidades, as dificuldades, quer dos
profissionais, quer dos pais, são as mesmas”, adiantou a presidente da
Associação Grão Vasco.Paula Fong disse à
agência Lusa que, “mesmo havendo recursos, é sempre preciso mais
recursos, mesmo já havendo inclusão e os meninos estando dentro da
escola, é necessário mais tempo de apoio, é preciso maior articulação,
sensibilização e comunicação entre todos” os intervenientes.O
resultado surgiu de um mesmo questionário realizado em escolas de
Viseu, Santiago de Compostela (Espanha) e Luca (Itália) e foi respondido
pelo mesmo número de pais e educadores de alunos com necessidades
especiais, profissionais da educação, como docentes e técnicos, e também
autarquias.O inquérito foi realizado no
âmbito do projeto ARISE – A moRe IncluSive Education, promovido pelo
Erasmus +, que iniciou em dezembro de 2023 e que envolve associações
ligadas a agrupamentos escolares das três cidades.“As
diferenças maiores que encontrámos nos três países é que realmente em
Portugal os alunos já estão inseridos dentro das escolas públicas”,
realçou Paula Fong.Em Itália, “os meninos
estão nas escolas, inseridos no ensino regular, mas não há profissionais
qualificados, como psicólogos e professores de necessidades especiais”
dentro das escolas.“Esse é um dos
problemas de Itália, quando os professores se estão a formar, optam, não
por vontade própria, acabam por ter um período de formação em ensino
especial, para terem mais facilidade em dar aulas e não serem precários.
Mas não são professores em ensino especial”, contaram à agência Lusa
Fábio Saccomani e Elena Salamino.Responsáveis
pela associação Limeup e Fondazione per la Coesione Sociale,
respetivamente, os dois dirigentes assumiram que em Itália “há um longo
caminho a percorrer na inclusão das crianças com necessidades especiais
na educação”.Em Portugal, acrescentou o
diretor do Agrupamento de Escolas Grão Vasco, Luís Nóbrega, “um
professor só se pode especializar em educação especial depois de cinco
anos a dar aulas no ensino regular”.“Em
Espanha, ainda temos centros de educação especial e a maioria das
crianças estão em centros normais, comuns. Mas, dentro dos centros
comuns, passam muitas horas em salas separadas, não há inclusão”,
revelou Alba Iglesias, da Federación Down Galicia.Alba
Iglesias disse ainda que “não há apoio suficiente, não há professores
especializados em número suficiente para os apoios que são necessários
de dar”, o que acaba por provocar “poucas horas de ensino”.A
título de exemplo, disse, e dependendo “de centro para centro e do
número de alunos, pode acontecer estarem quatro alunos com necessidades
totalmente diferentes, todos juntos num estudo que acontece somente duas
horas por semana”.“A legislação diz que
até 2031 os centros de educação especial têm de desaparecer, mas, tal
como está agora o sistema, é impossível. O sistema não está preparado.
Na teoria, no papel, o aluno está incluído, e as pessoas pensam que
estão incluídos, mas na realidade não estão a receber o apoio que
precisam dentro de uma aula”, disse Alba Iglesias.Luís
Nóbrega reconheceu que Portugal, “apesar da falta de recursos ser
tremenda, já fez muito mais caminho” que Espanha e Itália, mas “está
muito atrás no que diz respeito à envolvência da sociedade nesta
questão”.“É por isso que este projeto é
muito importante e estas iniciativas também, que é para chegar ao máximo
de comunidade. Amanhã [quinta-feira] vamos estar na cidade de Viseu em
contacto com as pessoas e ver barreiras que foram derrubadas e o que as
cidades podem fazer para uma melhor inclusão”, disse Luís Nóbrega.Os
parceiros revelaram ainda que “este projeto é o primeiro passo” de uma
“maior inclusão, já que, depois dos encontros programados ao longo do
projeto, vai “sair um manual de boas práticas para divulgar pelos
diferentes países”.