Inquérito a António Costa ainda decorre e se não foi arquivado é porque algo o impede
9 de jul. de 2024, 10:51
— Lusa/AO Online
Em
entrevista à RTP, a primeira em quase seis anos de mandato, a
procuradora-geral da República (PGR) sublinhou por várias vezes que a
investigação no âmbito da ‘Operação Influencer’ ainda decorre e que
António Costa não foi constituído arguido “até ao momento”.“O
ex-primeiro-ministro não foi constituído arguido naquele momento.
Decorreram semanas. Se inquérito não foi agora encerrado é porque algo
obstará”, disse Lucília Gago, sublinhando sempre que a investigação
ainda decorre e que se não houve arquivamento é porque existe algo a
impedir um despacho final.Questionada
sobre se se pode comprometer com um arquivamento em breve do inquérito
que visa António Costa, Lucília Gago rejeitou.A
PGR recusou também a ideia de que deva um pedido de desculpas a António
Costa, caso o inquérito venha a ser arquivado, assim como o MP “não
deve qualquer pedido de desculpas a qualquer outro cidadão”. “Não há ninguém acima da lei”, sublinhou Lucília Gago.A
PGR negou qualquer “cuidado especial” no inquérito que visa António
Costa, tendo sido tratado como qualquer outro face a uma denúncia ou
suspeita de crime, no caso, com base em afirmações feitas por outros
arguidos no processo e que “a serem verdade o que as afirmações
continham havia ou poderia haver a pratica de ilícitos”, o que justifica
a abertura de inquérito.“Da instauração
do inquérito não decorre automaticamente existência de indícios, de
indícios fortes ou de indícios que deem origem a uma acusação”,
sublinhou Lucília Gago.Sobre o parágrafo
que levou à demissão de Costa, a PGR chamou a si e ao seu gabinete de
imprensa inteira responsabilidade pela sua redação, negando qualquer
intervenção do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no
documento, “nem uma vírgula”.O parágrafo
não poderia deixar de constar, justificou a PGR: “Ninguém iria nunca
perceber, ao contrário, dir-se-ia que teria havido uma tentativa de
branquear, proteger. Não acho que, por questões de transparência,
devesse ser omitida essa referencia”.Lucília
Gago reconheceu que quando o parágrafo foi escrito se anteviu que
pudesse desencadear “uma reação forte”, mas remeteu para o
ex-primeiro-ministro e para a “avaliação política e pessoal” que fez
toda a responsabilidade da decisão de se demitir, classificando como
“absolutamente descontextualizada” a referência que mais tarde se fez à
queda do Governo como um “golpe de Estado” do MP.“É evidente que não me sinto responsável pela demissão do primeiro-ministro”, reafirmou a PGR.“O
MP com transparência fez o seu trabalho e não deve mais preocupar-se
com as consequências que advêm ao próprio. (…) ”, disse a PGR.Recordou
exemplos europeus, como a da presidente da Comissão Europeia, Ursula
Von der Leyen, ou o presidente do Governo espanhol, Pedro Sanchez, alvo
de investigações ou com familiares investigados, e que ainda assim não
tomaram a decisão de se demitir.“Não se
pode ter dois pesos e duas medidas. Não se pode dizer que todos os
cidadãos são iguais perante a lei e depois querer dispensar um
tratamento diferenciado a um primeiro-ministro”, disse ainda a PGR.Lucília
Gago disse não compreender “o alarido que se instalou” e disse que as
acusações de que tem sido alvo são “o menos”, mas as que genericamente
são dirigidas ao MP “são graves”.“Está a dar-se a entender que há vontade de perseguir políticos, não há essa vontade, isso é um absurdo”, disse.Desvalorizou
ainda as divergências na avaliação de prova entre o MP e os juizes de
instrução e da Relação, reafirmando que a investigação prossegue, ainda
que admitindo que algumas falhas de especialização dos magistrados em
criminalidade económico-financeira complexa possam comprometer “a
acuidade” nos resultados, mas ressalvando: “Não estou a dizer que é o
que se passa no caso”.Sobre a possibilidade de haver um “erro grosseiro” neste caso, Lucília Gago afirmou ser “muito difícil admitir tal coisa”.