Autor: Ana Carvalho Melo
Na Região, a infertilidade afeta cerca de 10 mil casais, estimou ontem o médico Rui Mendonça, diretor clínico da Meka Center - Clínica da Mulher.
Rui Mendonça, que falava durante a cerimónia relativa ao convénio de colaboração entre a Universidade dos Açores (UAc), a Universidade de Alicante, em Espanha, e a Meka Center, explicou que esta estimativa resulta da extrapolação da realidade nacional, onde cerca de 500 mil casais deverão ser afetados por infertilidade, o que, na Região, representa cerca de 10 mil.
Segundo o médico, na Região, em consequência da Lei n.º 17/2016 e da aposta feita pela Meka Center “no desenvolvimento de todas as técnicas comprovadamente eficazes de procriação medicamente assistida (PMA)”, os beneficiários do PMA já não são apenas estes cerca de 10 mil casais com infertilidade.
“São também mulheres sem parceiro, independentemente do seu estado civil ou orientação sexual, que querem engravidar; casais de mulheres que querem procriar, designadamente através da maternidade partilhada; beneficiários referenciados pelas consultas de incongruência de género para preservação do potencial reprodutor; doentes oncológicos que pretendem preservar o potencial reprodutor antes dos tratamentos; mulheres com endometriose; e beneficiários com doenças genéticas graves passíveis de transmissão aos seus descendentes”, elencou.
E, sobre os portadores de doenças genéticas graves passíveis de transmissão aos seus descendentes, o médico salientou que estes podem recorrer ao diagnóstico pré-implantatório, evitando a transferência para o útero dos embriões afetados.
“Este último grupo tem, obrigatoriamente, de ser mais apoiado na Região Autónoma dos Açores, onde existem doenças de elevadíssima prevalência, como é exemplo a Doença de Machado-Joseph, poupando sofrimento e encargos sociais brutais”, defendeu, lamentando: “A prevenção, infelizmente, tendo pouca visibilidade mediática, é frequentemente esquecida pelos governantes um pouco por todo o lado”.
Ainda
na sua intervenção, o médico Rui Mendonça realçou que o protocolo ontem
assinado “é um momento importante para as instituições envolvidas -
UAc, Universidade de Alicante e Meka Center -, mas também para os
beneficiários da procriação medicamente assistida (PMA), que podem ver
melhoradas as abordagens aos seus problemas na sequência do conhecimento
que pode advir deste trabalho conjunto”.
Estudo identifica fatores ambientais que afetam a fertilidade
Fruto deste protocolo, foi ontem anunciado que será realizado o estudo-piloto “Influência do perfil de elementos potencialmente tóxicos no sucesso dos resultados da reprodução medicamente assistida”, que junta a UAc, a Universidade de Alicante e a Meka Center.
De acordo com o professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UAc, Armindo Rodrigues, e corresponsável por este projeto-piloto, este trabalho de investigação terá como objetivos: determinar a concentração de elementos-traço quer no líquido folicular quer no plasma seminal; desenvolver e validar uma metodologia padrão que permita comparar os resultados em vários laboratórios através de espetrometria de massa; e identificar fatores ambientais que permitam beneficiar os casais inférteis.
Segundo o investigador, são vários os fatores que contribuem para a infertilidade, como a idade e os hábitos de vida pouco saudáveis, como a alimentação inadequada, a falta de atividade física, a obesidade, o consumo de álcool e a poluição ambiental.
“Na Europa, cerca de 90% das pessoas respira ar sem qualidade ou com pouca qualidade, e o nosso foco neste projeto é perceber até que ponto elementos potencialmente tóxicos poderão influenciar questões de infertilidade”, salientou.
Ainda na sua intervenção, Armindo Rodrigues realçou que “este convénio materializa uma relação que existe há cerca de 15 anos com a Universidade de Alicante e da qual já resultaram perto de uma dezena de publicações em revistas com elevado fator de impacto”, destacando também a ligação entre a academia açoriana e a Meka Center.