Infeciologista diz ser prematuro avançar já com alívio das restrições
Covid-19
15 de fev. de 2022, 16:15
— Lusa/AO Online
“Eu
penso que estamos a querer ir muito depressa e, do meu ponto de vista,
não se justifica”, disse à agência Lusa Fernando Maltez na véspera de
mais uma reunião entre especialistas e responsáveis políticos, convocada
pelo primeiro-ministro, para avaliar a situação epidemiológica do país,
num momento em que estão a descer o número de infeções e o índice de
transmissibilidade (Rt) da Covid-19, que já está abaixo de 1.
Apesar da situação epidemiológica estar a melhorar, o diretor do
serviço de Doenças Infecciosas do Hospital Curry Cabral, em Lisboa,
considerou “demasiado prematuro” aliviar as medidas de controlo da
infeção, enquanto uma parte da população ainda não tem o esquema vacinal
com reforço completo.“Enquanto tivermos
uma parte significativa da população mais jovem, nomeadamente as
crianças dos 5 aos 11 anos, por vacinar penso que não deveremos ir muito
depressa”, acrescentou, defendendo que a preocupação deve ser “acelerar
o processo de vacinação”.Fernando Maltez
disse, contudo, que se pode aliviar algumas medidas, nomeadamente a
exigência de mostrar os certificados de vacinação e recuperação em
determinadas circunstâncias e o uso de máscara em ambientes ao ar livre.“Mas
acho que devemos ir com prudência, com cautela, sempre acompanhando
aquilo que está a verificar na redução dos números”, na percentagem de
positividade da testagem realizada e na pressão nos internamentos em
enfermaria e nos cuidados intensivos.Na sua perspetiva, seria “mais adequado” esperar “mais 10 ou 14 dias” para intensificar essas medidas de alívio.
Para o especialista, foi “demasiadamente precoce” ter-se acabado com a
exigência dos passageiros que chegam a Portugal por via aérea
apresentarem um teste negativo ao vírus SARS-CoV-2, advertindo que,
enquanto o SARS-CoV-2 estiver a circular, há sempre o risco de novas
variantes, provenientes de regiões, onde o vírus circula com mais
intensidade. Fernando Maltez alertou que
existe uma probabilidade de entrarem em Portugal novas variantes, que
podem “trazer com elas maior gravidade de doença, maior mortalidade,
maior capacidade de transmissão”.Portugal
registou nas últimas 24 horas, 55 óbitos por Covid-19, totalizando
20.620 desde o início da pandemia no país, em março de 2020.Sobre
se todos estes óbitos tiveram como principal causa a infeção por
SARS-CoV-2, Fernando Maltez admitiu que haja mortes que não tenham sido
causadas diretamente por este vírus, “apesar de estar presente”, mas na
sequência de insuficiência cardíaca, de enfarte do miocárdio, de
acidente vascular-cerebral ou de outras comorbilidades.“Em
muitas circunstâncias, em muitos doentes, é muito difícil” saber se a
causa da morte é exclusivamente resultante da comorbilidade, disse,
explicando que o SARS-CoV-2 é um vírus que infeta diversos órgãos”,
desde o trato gastrointestinal, o trato renal, o sistema nervoso
central, o sistema cardíaco. Portanto,
sublinhou, “tentar perceber se a morte foi exclusivamente devido a um
enfarte do miocárdio ou se o SARS-CoV-2 que lá estava contribuiu,
ajudou, acelerou, predispôs essa morte é muitas vezes difícil do ponto
de vista clínico fazê-lo”.