Infeção pelo vírus Monkeypox em Portugal 'pode ser um surto'
18 de mai. de 2022, 17:37
— Lusa/AO Online
“Podemos
utilizar a palavra surto porque podemos falar em surto sempre que há um
aumento de casos face ao que é esperado. E nós não esperávamos que
nenhum caso ocorresse em Portugal”, disse a médica que é membro do grupo
de trabalho criado pela Direção-Geral da Saúde (DGS) que está a gerir
esta situação.Em declarações aos
jornalistas, no Porto, a também diretora do Programa Nacional para as
Infeções Sexualmente Transmissíveis e VIH confirmou que os casos foram
detetados numa clínica ligada a doenças sexualmente transmissíveis em
homens jovens com idades entre os 20 e os 50 anos.“Foram
identificados em contexto de atendimento numa clínica de doenças
sexualmente transmissíveis porque apresentavam lesões genitais. É
verdade que são casos de homens que têm sexo com homens, mas essa pode
só ter sido a forma como foi dado o alerta. Ainda não sabemos mais. Não
está descrita, classicamente, a via de transmissão sexual [como passível
de causar esta infeção], mas há transmissão por contacto próximo,
íntimo e prolongado”, descreveu Margarida Tavares.Salvaguardando
que a situação em Portugal “está a ser acompanhada e estudada” e que se
tratam de casos “muito recentes” que, do ponto de vista clínico, se
traduzem em “situações muito ligeiras e benignas”, a infeciologista que
trabalha no Hospital de São João adiantou que além dos cinco casos já
confirmados estão em estudo mais “cerca de 15”.Todas as situações, frisou, estão localizadas na região de Lisboa e Vale do Tejo.“Mas para já não sabemos se existe relação. E sim, pode haver dispersão pelo país”, acrescentou.Rejeitando
a palavra “isolamento”, Margarida Tavares disse que as pessoas
infetadas estão em casa e “estão aconselhadas a não contactar de forma
próxima com outras pessoas”.Margarida
Tavares também rejeitou falar em grupos populacionais suscetíveis,
apontando que qualquer semelhança que se encontre atualmente nos casos
detetados pode estar relacionada “não com suscetibilidade”, mas sim com
“oportunidade de contacto”.Esta é a primeira vez que é detetada em Portugal infeção pelo vírus Monkeypox.O
vírus Monkeypox é do género Ortopoxvírus (o mais conhecido deste género
é o da varíola) e a doença é transmissível através de contacto com
animais, ou ainda contacto próximo com pessoas infetadas ou com
materiais contaminados.Margarida Tavares
alertou para a partilha de objetos como roupas de cama ou roupas de
banho e admitiu que pode haver transmissibilidade através de gotículas
respiratórias e das lesões cutâneas, nomeadamente da crosta em caso de
escamação.Manifestando-se em lesões que
podem parecer idênticas à varicela, a infeção por vírus Monkeypox foi
detetada pela primeira vez num ser humano em 1970 em países sobretudo da
África Central e da África Ocidental.Em 2003 foram reportados nos Estados Unidos da América algumas dezenas de casos.Também
o Reino Unido reportou, recentemente, casos semelhantes de lesões
ulcerativas, com a confirmação de infeção por vírus Monkeypox.Em comunicado a DGS disse que “está a acompanhar a situação a nível
nacional e em articulação com as instituições europeias” Questionada
se existe relação entre a situação reportada no Reino Unido e a
realidade portuguesa, Margarida Tavares reiterou que a situação está a
ser analisada.Em causa está uma doença que
se manifesta em lesões cutâneas desde pequenas manchas até lesões com
conteúdo líquido ou mesmo crostas que acabam por cair. Em
algumas circunstâncias fica uma cicatriz e os sintomas são sistémicos
como febre ou febrícula, mialgias, aumento dos gânglios.Sobre
o tempo de recuperação associado a esta infeção a médica adiantou que
“do que está estudado, o fim do período de contagiosidade ocorre com a
cura completa das lesões”, ou seja, quando as crostas caem, o que pode
ocorrer entre duas a quatro semanas.“Poderá
haver alguma proteção das pessoas que foram vacinadas contra a varíola
que terminou em 1973, mas tudo está ainda a ser analisado”, voltou a
salvaguardar a infeciologista.