Infarmed autorizou 155 ensaios clinicos em 2020 e reduziu tempo de resposta
20 de mai. de 2021, 10:40
— Lusa/AO Online
Em
declarações à agência Lusa a propósito do Dia Internacional dos Ensaios
Clínicos, que hoje se assinala, o diretor da Unidade de Ensaios
Clínicos do Infarmed, Joel Passarinho, sublinhou o facto de na última
década o número de pedidos submetidos ao instituto ter duplicado,
acrescentando que, dos pedidos autorizado no ano passado, seis foram no
âmbito da Covid-19.Este responsável do
Infarmed considerou que participar num ensaio clínico é "um ato de
altruísmo", sublinhando que a função principal dos ensaios é "aumentar o
conhecimento", seja de uma nova terapêutica ou de uma já existente mas à
qual se pretende dar uma outra indicação."Não
há qualquer garantia de que exista ali um benefício associado e que
isso (…) seja garantido à partida. Aquilo que nós sabemos quando
autorizamos o ensaio é que, do ponto de vista do conhecimento que exista
naquele momento, do ponto de vista do benefício-risco, existem as
premissas essenciais para se garantir que é seguro autorizar, que os
benefícios superam os riscos", afirmou.No
ano passado, o Infarmed recebeu 187 pedidos de autorização para ensaios
clínicos (142 em 2019) e autorizou 155 (142 em 2019), sendo que o tempo
médio de decisão foi de 32 dias (22 dias úteis), menos dois dias de
calendário do que em período homólogo.Quase
metade dos ensaios autorizados no ano passado foram na área da
oncologia (81), seguindo-se os que envolvem o sistema nervoso central
(27), medicamentos anti-infeciosos (13) e o sistema cardiovascular (13).Segundo
os dados da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, a
maioria dos pedidos parte da indústria farmacêutica (167), sendo os
restantes académicos (20).Questionado pela
Lusa, Joel Passarinho sublinhou a segurança dos ensaios clínicos,
frisando que são "meticulosamente planeados" e "extremamente
escrutinados"."São avaliados seguindo
práticas universalmente reconhecidas pela comunidade científica mundial.
Quando são avaliados pelas autoridades, são revistos e, se forem
necessárias alterações ou modificações aos protocolos, ou aos desígnios
do estudo, (...) essas alterações são solicitadas às empresas ou aos
investidores para que sejam introduzidas no protocolo", assegurou.O
responsável lembrou ainda que o ensaio clínico, a partir do momento em
que é autorizado, "é continuamente monitorizado", por vezes mesmo depois
de acabar, pois há efeitos que podem ser sentidos a longo prazo."Aquilo
que tem de ser sempre garantido é que o Infarmed e as instituições
europeias procuram garantir que existe uma relação de benefício risco
favorável", acrescentou.Lembrou ainda que
além da autorização do Infarmed, é necessário também um parecer
favorável da comissão de ética para investigação clínica em Portugal,
que se debruça sobre os aspetos éticos do ensaio.O
especialista considerou que Portugal "tem margem de crescimento" na
área dos ensaios clínicos e que é preciso "coesão e alinhamento de todos
os envolvidos"."Não só das entidades
competentes para autorização, como é o caso do Infarmed, (...) mas de
todos os intervenientes nos ensaios, desde os promotores, que devem ter
as metodologias mais corretas e a informação mais cientificamente
credível no momento da submissão, aos hospitais, que devem ser céleres
na validação e na aprovação, e às equipas de investigação, que também
têm a sua responsabilidade de fazer o melhor que conseguirem para
recrutar os doentes que são necessários", defendeu.Considerou
ainda que "só com o aumento do recrutamento de doentes é que se
conseguirá que as entidades promotoras de ensaios clínicos vejam
Portugal como atrativo".Joel Passarinho
frisou também a importância do novo regulamento europeu de ensaios
clínicos, que entra em vigor em janeiro de 2022."Até
aqui, para decorrer nos 27 países da União Europeia, o promotor do
ensaio tem de submeter o pedido país a país, em todos os Estados
membros, e esperar por uma autorização. E isto não acontece de forma
sincronizada, acontece em diferentes momentos do tempo. Portanto, vai
demorar imenso tempo", disse.Com o novo
regulamento, seja qual for numero de países em que o promotor quer
desenvolver o ensaio, o pedido será submetido uma única vez, através de
uma plataforma informática, e vai ser avaliado de forma coordenada, com a
intervenção dos vários Estados-membros."Acontece
de forma sincronizada e em que são usados os mesmos critérios para
avaliar", o que reduz a burocracia e a redundância de procedimentos,
encurtando o tempo de autorização, explicou.