Incêndios mostraram "político habilidoso" quando país precisava de um estadista
24 de out. de 2017, 15:31
— Lusa/AO online
"O primeiro-ministro falhou e não o
reconheceu, arrepiou caminho vencido, mas não convencido. Os assessores
de comunicação e de imagem podem dar uma ajuda, mas não mudam a natureza
das pessoas e não lhes dão o estatuto que não têm. Quando o país
precisava de um estadista, constatou que tinha apenas um político
habilidoso", acusou Assunção Cristas. Na abertura do debate da
moção de censura ao Governo apresentada pelo CDS no parlamento, a líder
centrista argumentou estar a dar voz "à censura popular" e que isso
"vale independentemente do desfecho que venha a ter", que é o chumbo já
anunciado pela maioria de esquerda. "A omissão envergonhar-nos-ia
enquanto parlamento, porque não estaríamos a honrar quem confiou em nós
para os representarmos", declarou. Para Assunção Cristas, deixar
passar este momento "seria uma falha muito grave" na história
democrática portuguesa e "um peso" que não "quereria suportar enquanto
líder do CDS". A presidente centrista devolveu as acusações de oportunismo num contra-ataque dirigido a PCP, PEV e BE. "Quem
nos acusa de manobra partidária olhe para si, olhe para as moções de
censura que apresentou no passado, olhe para as razões económicas e
financeiras então invocadas e em consciência diga aqui, hoje e agora,
que essas razões são mais importantes do que a tragédia humana que por
duas vezes nos atingiu e toca no centro da existência de um Estado - a
proteção das pessoas, da vida das pessoas, e do nosso território",
defendeu. Assunção Cristas sublinhou que a responsabilidade de
António Costa pela forma como o Governo lidou com os incêndios foi
baseada na sua própria assunção de responsabilidades, a seguir ao
incêndio de Pedrógão. "No dia 12 de julho, perante a insistência
do primeiro-ministro em não demitir - ou, sabe-se hoje, aceitar a
demissão da ministra da Administração Interna e assim ajudar a reatar a
confiança no Estado - fui clara: a partir desse momento a
responsabilidade seria exclusivamente do primeiro-ministro. Respondeu-me
'tudo aquilo que uma das minhas ministras ou dos meus ministros fizer
será sempre responsabilidade minha'. É essa responsabilidade que hoje o
CDS convoca", vincou. Assunção Cristas argumentou que "o Governo
falhou duplamente" sem comando nem capacidade de ação na Administração
Interna e na Autoridade Nacional de Proteção Civil. Estas
entidades "não acautelaram a extensão no tempo de todos os meios, não
intensificaram suficientemente os meios de sensibilização das populações
para os comportamentos de risco, não fiscalizaram como era exigido, não
acautelaram os meios para o fim-de-semana da catástrofe quando todos os
avisos meteorológicos apontavam para risco máximo", defendeu. "Ao invés, deixaram reduzir os meios aéreos quando todas as previsões apontavam para clima quente e seco", apontou. Para
Assunção Cristas, "as decisões do Governo anunciadas neste
fim-de-semana são pouco para a profundidade dos danos e para a
complexidade dos desafios". "Os anúncios deste fim-de-semana vêm
tarde, muitos tirados a ferro pela palavra do senhor Presidente da
República e pela censura popular", afirmou, sobre as medidas decididas
em Conselho de Ministros extraordinário. Antes do início do
debate, o primeiro-ministro deslocou-se à bancada do PCP para
cumprimentar o deputado e dirigente comunista Francisco Lopes, que
perdeu um familiar nos incêndios, conforme foi noticiado por vários
órgãos de comunicação social.