Imunologista Maria de Sousa morreu vítima da infeção
Covid-19
14 de abr. de 2020, 11:47
— Lusa/AO Online
Segundo a mesma fonte, a
investigadora estava internada nos cuidados intensivos do Hospital de
São José, que integra o Centro Hospitalar Lisboa Central.A notícia da morte de Maria de Sousa, nascida em 1939, foi avançada pelo jornal Público.Cientista,
escritora, professora universitária, Maria de Sousa lecionou em
Inglaterra, Escócia e Estados Unidos, depois de ter saído de Portugal
ainda durante o Estado Novo, em 1964. Regressaria já no período
democrático, em 1985, passando a professora catedrática de Imunologia do
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, no Porto.Segundo
fonte da Universidade do Porto, Maria de Sousa, de 81 anos, sofria de
várias patologias, tendo sofrido “complicações de saúde, que já lhe
dificultavam o andar”.Era professora
Emérita da Universidade do Porto e investigadora honorária do i3S –
Instituto de Investigação e Inovação em Saúde. Era ainda membro do júri
do Prémio Pessoa.As suas descobertas foram
publicadas na revista Journal of Experimental Medicine e na revista
Nature, respetivamente em janeiro e dezembro de 1966. O título do
primeiro artigo científico com as descobertas de Maria de Sousa é
precisamente “Áreas dependentes do timo nos órgãos linfáticos em
ratinhos recém-nascidos timectomizados”.Mais
tarde, em 1971, Maria de Sousa deu um nome ao fenómeno de migração dos
linfócitos de diferentes origens – tanto do timo como da medula óssea,
onde se forma outro tipo de linfócitos – com destino a microambientes
específicos nos órgãos linfáticos periféricos e aí se organizarem em
áreas bem delineadas. Chamou-lhe “ecotaxis”.Quando
deu o nome à migração dos linfócitos, Maria de Sousa já tinha partido
de Londres rumo à Escócia, em 1967. Na Universidade de Glasgow
doutorou-se então em imunologia em 1972, permanecendo na Escócia até
1975. Daí seguiu para os Estados Unidos – para o Instituto Sloan
Kettering para a Investigação do Cancro (em Nova Iorque), a Faculdade de
Medicina de Cornell (em Nova Iorque) e a Faculdade de Medicina de
Harvard (em Cambridge, Boston).Em 1984,
regressou a Portugal vindo contribuir para o desenvolvimento da
investigação científica no país. Logo em 1985 tornou-se professora
catedrática de imunologia no Instituto de Ciências Biomédicas Abel
Salazar (ICBAS), no Porto.Mais tarde,
contribuiu para a implantação da avaliação externa e independente dos
centros de investigação portugueses, que até meados dos anos 90 não
existia em Portugal, ao ter sido convidada pelo então ministro da
Ciência e da Tecnologia, José Mariano Gago, para coordenar esse processo
na área das ciências da saúde.A 16 de
outubro de 2009, aos 70 anos, jubilou-se da atividade docente no ICBAS,
dando a sua última aula intitulada “Uma escola sem muros”.Recebeu
o Grande Prémio Bial de Medicina em 1995, o Prémio Estímulo à
Excelência em 2004 e a Medalha de Ouro de Mérito Científico em 2009,
ambos atribuídos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior. Seguiram-se o Prémio Universidade de Coimbra 2011 e o Prémio
Universidade de Lisboa 2017.Foi
condecorada por três presidentes da República: em 1995 por Mário Soares
com o grau de grande-oficial da Ordem Infante D. Henrique, em 2012 por
Aníbal Cavaco Silva com o grau de grande-oficial da Ordem Militar de
Sant’Iago da Espada e em 2016 por Marcelo Rebelo de Sousa com a grã-cruz
da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.