Voos CIA
Impossível Governo e "secretas" não saberem
O jornalista Rui Costa Pinto, autor de “Voos Secretos CIA - Nos Bastidores da Vergonha”, considera impossível que as “secretas” e o Governo não soubessem ou desconfiassem da utilização de aeroportos para transporte de prisioneiros para Guantánamo.

Autor: Lusa / AO Online
    A tese é exposta em livro que é também o relato da sua experiência na investigação acerca do envolvimento português no caso dos voos da CIA, afirmando que “muita da recolha da informação [dos seus trabalhos jornalísticos] foi obtida durante inúmeras conversas com elementos das ‘secretas’”.

    O autor, ex-jornalista do DN, O Independente e Visão, revela como, em reportagem na Terceira, ilha açoriana onde os Estados Unidos utilizam a base das Lajes, desde a década 40, lhe foi revelado o testemunho de pessoas que viram “prisioneiros na placa da base”.

    Testemunhos esses que estiveram na origem da reportagem que não foi publicada na revista Visão - e ditou a sua saída da revista - e na participação que fez, para protecção das suas fontes, ao Procurador-Geral da República (PGR), motivando também um inquérito do Ministério Público, ainda em curso.

    Costa Pinto lembra que esta foi uma investigação a matérias em segredo de Estado - cuja violação é punida com penas de prisão - e sobre as quais afirma ser difícil existirem documentos timbrados, oficiais, “em pastas vermelhas”.

    O jornalista questiona-se se “poderia ter sido possível realizar tais ‘operações’ [transporte ilegal de presos] sem que os ‘serviços’ portugueses tenham sequer desconfiado?”.

    Ou ainda se “poderia ter sido possível aos ‘serviços’ portugueses participar, omitir ou abafar tais ‘operações’ a quatro primeiros-ministros e a dois Presidentes da República?”.

    Ou se, por fim, teria “sido possível aos ‘serviços’, depois de todas as notícias, publicadas sobretudo a partir do segundo semestre de 2005, desconhecer a continuação dos voos ‘secretos’ CIA e o transporte de prisioneiros, detidos ilegalmente, através de Portugal?”.

    “Para todas estas questões, só encontrei uma resposta plausível: Não!”, afirma no seu livro.

    Apesar de reconhecer ser difícil uma investigação judicial sobre o assunto, Costa Pinto dá um exemplo de sucesso - o do magistrado de Milão, Itália, Armando Spataro que conseguiu investigar o rapto de um imã egípcio, Abu Omar, em 2003, e que levou à acusação de agentes da CIA.

    O autor, além de todos os indícios que apontam para a utilização de território português no caso dos “voos da CIA”, como as listas do Instituto Nacional da Aviação Civil (INAC) de e para Guantánamo, revela também os testemunhos nos Açores que viram prisioneiros na Base das Lajes e ainda documentação norte-americana desclassificada sobre o caso do rapto dos “Bosnian Six”.

    Rui Costa Pinto revela ainda parte dos bastidores jornalísticos da sua investigação, com a denúncia de que uma das suas reportagens, nos Açores, para a revista Visão, não foi autorizada - o jornalista aponta “pressões externas” admitindo que o próprio patrão da Impresa, Francisco Pinto Balsemão, deu “cobertura ao que se passou”.

    “Não sei o que aconteceu, mas a minha saída [da Visão] é a prova que o dr. Francisco Pinto Balsemão deu cobertura ao que se passou, o que sempre achei que era impensável poder acontecer”, alega.

    Esta frase é, aliás, retirada de uma entrevista ao DN que nunca chegou a ser publicada e em que Costa Pinto conta os “bastidores” da sua investigação.

    O livro “Voos ‘Secretos’ CIA - Nos Bastidores da Vergonha” é editado pela Exclusivo Edições e tem venda exclusiva (em versão livro e formato digital), no “site” da editora RCP Edições (www.rcpedicoes.com).

    O caso dos "voos da CIA" teve início em Novembro de 2005, quando o jornal norte-americano Washington Post revelou a existência de prisões secretas da CIA em vários pontos do Mundo, incluindo em países do Leste europeu.

    Rapidamente, o assunto em foco passou a ser não tanto as prisões secretas (cuja existência viria a ser admitida mais tarde pelo próprio presidente norte-americano George W.Bush), mas antes o transporte ilegal de prisioneiros suspeitos de terrorismo e os chamados "voos da CIA", que, segundo a comissão do Parlamento Europeu, foram uma prática corrente na Europa desde os atentados de 11 de Setembro de 2001, nos Estados Unidos.